A arte de envelhecer
- Beto Scandiuzzi
- 23 de set. de 2022
- 2 min de leitura
Segundo os expertos no campo da fisiologia, o inicio do envelhecimento se dá já a partir dos vinte/trinta anos, momento em que nosso organismo começa o processo de modificação com o declínio da população natural de antioxidantes. Silencioso, imperceptível, progressivo e gradual, não chegamos a perceber essa mudança, assim como as próximas que virão com o avanço da idade. Mas, afinal, quando percebemos que estamos envelhecendo?
Cada pessoa envelhece de uma forma distinta e nesse processo intervêm diversos fatores como hereditários, estilo de vida, relações afetivas. Os primeiros sinais costumam ser: rugas e textura da pele, dor nas articulações, ressacas mal curadas, noites de sono ruins, o cabelo caindo, óculos extraviados etc.
O escritor Rubem Braga dizia, chateado, que se sentiu velho e incomodado quando numa roda com várias pessoas, uma jovem senhora o chamou de senhor. Só a ele. Com seu conhecido humor corrosivo, em resposta, escreveu uma carta/crônica à digníssima colocando-a no seu devido lugar. Um amigo me confidenciou que foi quando numa manhã qualquer não conseguiu fazer o nó da gravata. Uma amiga me falou, entre triste e magoada, que foi quando lhe apareceu o primeiro fio de cabelo branco. Não pelo fio, mas por não o enxergar e poder arrancá-lo. Comigo passou algo parecido. Eu tinha uns quarenta e cinco anos, viajava toda semana a Buenos Aires e adorava ler os jornais nas pouco mais de duas horas de voo. Numa ocasião, era um voo noturno, percebi que não podia ler e que óculos se faziam necessários. Eu me sentia jovem, corria maratonas, jogava squash, mas naquele voo eu senti que uma mudança havia acontecido.
Os anos passaram, as dependências aumentaram, umas mais críticas, outras menos, e cheguei àquela idade que falsos marqueteiros chamam de melhor idade e que outros mais realistas como última etapa. Temida, alguns a tomam como tediosa e insuportável. Como passar por ela com honradez e nobreza?
Cícero foi um famoso orador e político romano. Pouco antes de morrer em 43 a.C., aos sessenta anos, separado da esposa, perdido seu rol central à frente da classe política romana, se retirou à sua casa de campo e começou a escrever. No seu livro A arte de envelhecer, afirma sem rodeios que a velhice é uma etapa da vida que não temos que temer e sim desfrutar ao máximo. Algumas das lições que deixou:
– Uma boa velhice começa com a juventude.
– A velhice pode ser uma etapa maravilhosa da vida.
– A vida é uma sucessão de etapas.
– Os velhos têm muito que ensinar aos jovens.
– A velhice não implica necessariamente uma vida sedentária, se deve aceitar certas limitações.
– A mente é um músculo que se deve exercitar.
– Os velhos devem estar dispostos a defender-se.
– Sexo moderado.
– Cultive sua horta.
– Não devemos temer a morte.
Valiam dois mil anos atrás, continuam valendo hoje!
Setembro, 2022
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