Notas de viagem – Porto – Portugal
- Beto Scandiuzzi
- 19 de mar. de 2021
- 2 min de leitura
Chegamos à cidade do Porto – Portugal, numa madrugada de setembro, fim do verão deles, para um passeio de duas semanas pela Europa que incluiria Bruxelas e Amsterdam. O aeroporto, de linhas futurísticas, está quase vazio àquela hora, mesmo assim os trâmites de entrada ao país são lentos, demorados e cansativos. Quando saímos, uma manhã fresca, o sol começava a despontar no horizonte. A fila de taxis é extensa, nos dirigimos ao primeiro, nos recebe um senhor que realmente parecia um português: baixote, troncudo, farto de cabelos, bigodes e sobrancelhas espessas e negras. E que falava português, obviamente.
Me acomodei ao seu lado. Gosto sempre de conversar com os taxistas. No trajeto entre o aeroporto e o hotel, pouco mais de meia hora, ele inicia a conversa. Fala do carinho dos portugueses pelos brasileiros, mesmo sabendo das piadas que fazemos deles, e o do desejo de um dia conhecer o Brasil. Quando digo que somos de São Paulo, lista nomes de tios, primos, parentes que vivem por aqui como se eu tivesse obrigação de conhecê-los. Estamos em 2018 e ele logo pergunta do Bolsonaro, da facada e se ele ganharia as eleições. Não dou trela ao assunto e ele reclama do Uber, do custo de vida e que, segundo escuta do seu pai, um ex-taxista, a vida era muito melhor na época do Salazar, dos escudos e das colônias.
Enquanto ele fala presto atenção na cidade, parece uma cidade limpa, casas ajardinadas e edifícios antigos onde uma pintura cairia bem. Depois, durante a visita, eu iria comprovar sua beleza arquitetônica, edifícios históricos, alguns claramente necessitados de reparos, e que a levaram a ser classificada como um destino favorito dos turistas. Ajuda o custo de vida menor se comparado a outras cidades europeias. A foz, encontro do Rio Douro com o oceano é das mais lindas, com suas pontes em diferentes estilos, restaurantes onde se come do melhor regado a vinho local, de alto grau alcoólico, referência mundial da cidade e que eu provei uma única vez. Mas, convenhamos, o sobe e desce, ruas e ladeiras empinadas, não ajudam os passeios a pé.
O taxista conversador segue conversando, e, apesar da velocidade com que fala, entendo quase tudo. Único senão é quando pergunta se é verdade que no Brasil tem muitos “putos” vivendo abandonados pelas ruas, que é como eles chamam os “meninos”, “crianças”, numa das tantas divergências que o nosso linguajar comum entra em conflito. Já quase chegando ao hotel lhe pergunto quantos habitantes tem a cidade ao que ele, deixando a amabilidade de lado, indignado e raivoso me responde:
– Todos os brasileiros me fazem a mesma pergunta, ora bolas, e eu sei lá quantas pessoas tem a cidade? Nem me interessa.
Fiz que não entendi a resposta. Descemos, paguei a corrida, agradeci. Bem-vindo ao Porto!
Dias depois, já a caminho de Bruxelas, do alto vejo o Douro que se confunde com o mar. Com suas pontes e a baixada com seus edifícios coloridos, domina a paisagem. Promessa de voltar algum dia. Portugal é lindo. E é um pouco como se fosse a nossa casa.
Dezembro, 2020
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