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Aquelas manhãs de domingo

  • Foto do escritor: Beto Scandiuzzi
    Beto Scandiuzzi
  • 24 de jun. de 2022
  • 2 min de leitura

Eu já era bem grandinho, cursava a faculdade, quando assisti por primeira vez a uma corrida de Fórmula 1. Se não me falhe a memória, já com chips em curto-circuito e meio desorientados, era o ano de 1973 e foi graças a um colega da república que nos convidou para ir à casa da namorada, endinheirada, ver a corrida. Era também a primeira vez que assistia numa TV colorida.

Eram aqueles anos mágicos, de glamour da Fórmula 1, sem muita preocupação com a segurança. Graham Hill, bicampeão mundial, um dos grandes pilotos daquela época dizia que “guiar um Fórmula 1 é como pilotar uma banheira cheia de gasolina fumando um charuto cubano”. De vez em quando morria um. Com carros ainda sem muita tecnologia comparados aos atuais, os bons pilotos se diferenciavam dos medíocres.

Essa primeira corrida que eu vi, era no circuito de rua de Mônaco, ganhou um tal de Jackie Stewart, escocês, baixinho, já campeão mundial; o nosso Emerson ficou em segundo, mas o que me ficou na memória foram aqueles bólidos coloridos e barulhentos saindo do túnel e indo quase voando, em direção à chicane e à curva Tabac ao lado do porto. Emerson, campeão do mundo no ano anterior e um amigo da faculdade, haviam me despertado para o universo das corridas de F1.

Poucos anos depois, já casado, segui me levantando cada domingo para ver as corridas. O segundo título do Emerson, o fracasso do projeto Copersucar, os títulos do Piquet, do Ayrton Senna. Até aquela fatídica manhã de um domingo de maio de 1994 quando o Williams azul do Senna escapou na curva Tamburello do circuito de Ímola e o levou para sempre.

Vieram outros pilotos brasileiros que fizeram bonito, mesmo sem ganhar títulos, outros que passaram sem deixar rastros nem lembranças, o grande Schumacher, Hamilton, mas para mim a F1 nunca mais foi a mesma. Posso ter assistido a uma ou outra corrida, mas a emoção, o prazer, a vibração haviam ficado para trás naquela manhã ensolarada de maio quando Senna morreu.

Em julho de 2021 os jornais noticiaram a morte do argentino Carlos Reutemann, “Lole” para os íntimos, outro grande piloto daquela época. Guiou para a Ferrari, foi três vezes vice-campeão e ficou a um ponto do título que Piquet ganhou em 1981. Quando abandonou as pistas, foi cuidar das fazendas e virou político: senador e duas vezes governador da província de Santa Fé. Dizem que poderia ter sido presidente da Argentina se tivesse aceitado ser candidato em 2002 após a renúncia do presidente De la Rúa. Tinha boa imagem junto ao público.

Quando ele era senador fui convidado para a inauguração de uma fábrica na sua província. Ele estava lá. Tímido, de poucas palavras, fez um discurso curto, cortou a fita e quando se preparava para deixar a fábrica eu me aproximei e o cumprimentei. Foi o mais perto que cheguei de algum daqueles heróis dos tempos românticos da Fórmula 1.

Junho, 2022

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