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Os amigos

  • Foto do escritor: Beto Scandiuzzi
    Beto Scandiuzzi
  • 22 de jul. de 2022
  • 2 min de leitura

Existe um costume na sociedade argentina que admiro. Não, não é o uso cotidiano de “saco y corbata” que praticamente já desapareceu. Se trata de um outro que se mantém com o passar dos anos: o de se reunir, sistematicamente, com os vários amigos que se vão formando em distintas etapas da vida. São os amigos do colégio, do trabalho, os companheiros de clube, da universidade, do primário, do bairro onde nasceram e cresceram. Alguns, misturados num e noutro grupo. Assim, não surpreende saber que muitos consideram que o Dia do Amigo é uma invenção argentina criado em 20 de julho de 1969, quando o homem pisou a Lua por primeira vez.

Recentemente, em 2017, foi notícia o atentado terrorista em Nova York onde morreram cinco pessoas de Rosário – Argentina. Eram parte de um grupo de dez amigos, todos ex-alunos do Instituto Politécnico Superior de Rosário que haviam viajado aos Estados Unidos para comemorar os trinta anos de graduação. Se reuniam com frequência, e a escolha de Nova York para esse encontro era para facilitar a participação de um dos amigos que aí vivia.

Nós brasileiros, em geral, não cultuamos esses hábitos. Ou cultuamos mais ou menos, a nosso modo. Quase sempre nos reunimos com os mesmos amigos, em geral do trabalho que ao final é quase uma extensão do mesmo e faz parte do conceito de estreitamento das relações corporativas, o famoso network. Comigo passou algo parecido. Companheiros de trabalho foram as minhas prioridades por anos a fio.

Recentemente, com mais tempo livre, passei a me dedicar mais regularmente a outros encontros: com os amigos da infância, do colégio, da república, da faculdade, alguns com muitos anos de ausência. Por um deles, depois de cinquenta anos, fiquei sabendo como e porque o duro professor de química havia facilitado a nossa vida permitindo que concluíssemos o terceiro colegial com alguma folga e fidalguia.

Os assuntos, sempre regados a boa cerveja e alguma comida, são variados, despretensiosos e de acordo com cada grupo. Alguns temas são comuns, como lembranças de tempos passados, amores perdidos, extraviados, romances secretos nunca antes revelados, antigos professores, brincadeiras inocentes e, como não poderia faltar nessa idade, a próstata e outras doenças que vão aparecendo, inevitavelmente, aqui e ali para um e outro.

A Vera diz não entender bem esses nossos encontros e que estamos sempre repetindo os mesmos casos. E tenho que lhe dar razão. Sempre contamos as mesmas histórias. E sempre, deliciosamente, desbocadamente, quase às lágrimas, rimos como se as tivéssemos ouvido por primeira vez.

Julho, 2022

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