top of page

Roma

  • Foto do escritor: Beto Scandiuzzi
    Beto Scandiuzzi
  • 8 de jul. de 2019
  • 2 min de leitura

Roma, um filme dirigido pelo mexicano Alfonso Cuarón e lançado no final do ano passado, tem tudo para ser um divisor de águas na indústria cinematográfica: se trata do primeiro filme com direção de um famoso de Hollywood realizado exclusivamente para ser visto nos canais de streaming, neste caso, a Netflix. E arrastou muita polêmica e discussão entre os cinéfilos e críticos em geral no mundo todo.

A primeira questão é a validade de um filme que não poderá ser visto nas tradicionais salas de cinema antecipando um futuro onde os filmes serão vistos em casa sentados no sofá comendo batata frita com cerveja e o barulho do liquidificador na cozinha. A segunda é se esses filmes poderiam concorrer aos prêmios Oscar da famosa Academia de Hollywood. Tanto pôde que terminou arrebatando três estatuetas incluindo a de melhor direção, e muitos dizem que deveria ter levado também a de melhor filme.

Roma está filmado em preto e branco e é quase uma biografia sobre a infância de Cuarón vivida num bairro chamado Roma, da capital mexicana dos anos 70. Está a história da empregada doméstica indígena que trabalhou na sua casa, os conflitos sociais, os aviões que cruzam de vez em quando o céu acinzentado, enfim, um retrato do país daqueles anos. E está o massacre de Corpus Christi de 1971, quando paramilitares executaram uns 120 estudantes que marchavam em protestos contra a política de estado do então presidente mexicano Luis Echeverría Álvarez, alguns deles dentro do próprio hospital onde estavam sendo atendidos.

Quando vi o filme, que gostei, não fiz qualquer alusão a esse episódio, tampouco vi na crítica brasileira algum comentário. Aconteceu num 10 de junho como esse que passamos, quase cinquenta anos atrás. O massacre foi mal investigado e acabou prescrito em 2005 sem nenhum condenado.

Voltando ao tema inicial, realmente está condenada a maneira de ver filmes nos cinemas tradicionais? Não sei, houve uma discussão parecida quando do advento da TV anos atrás. E o cinema se reinventou e segue vivo passados mais de 100 anos desde que se inaugurou nos Estados Unidos aquela primeira sala destinada exclusivamente ao cine.

Espero que não, de coração, que a internet não o destrua e que se possa seguir desfrutando do prazer inigualável de ver um filme, sozinho ou acompanhado, naquela tela grande que antes se chamava CinemaScope, no silêncio mágico de um cinema. Como quando eu ia, apenas um desajeitado e sonhador adolescente, nos velhos e desaparecidos cines da minha querida Aramina.

Junho, 2019

 
 
 

Comentários

Avaliado com 0 de 5 estrelas.
Ainda sem avaliações

Adicione uma avaliação
bottom of page