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A era digital

  • Foto do escritor: Beto Scandiuzzi
    Beto Scandiuzzi
  • 7 de fev. de 2019
  • 3 min de leitura

Já é coisa velha, como chover no molhado, como já rezava aquele velho ditado, dizer que os celulares estão levando as pessoas a se comunicarem menos, digo comunicação pessoal, direta, frontal. Alguns dirão que não, que a comunicação até aumentou, via celulares, e eu digo que sim, mas aí estamos falando de uma comunicação vazia, fugaz, apressada, descompromissada. Pelo menos na minha opinião, um pouco jurássica, reconheço.

É comum ver em qualquer lugar pessoas sentadas em companhia de outra, outro, outras, totalmente alheias ao que se passa ao redor, compenetradas, dedilhando as famosas maquininhas. E tome mensagem pra lá, pra cá, curtir este, não curtir aquele que não acaba mais. E esta situação, agora, já não está mais restrita aos jovens como pensávamos até então, a febre avança e já alcança os de mais idade que após os primeiros impactos da mudança vão se acostumando às novas maquininhas e aos segredos da sua linguagem.

Outro dia no restaurante, ao lado da nossa mesa, enquanto comíamos ao velho estilo, sem celular, cinco homens, todos mais ou menos da minha idade, se concentravam no celular fazendo tempo esperando o garçom com a comida. E nada de conversa.

Quando passo por Rosário, gosto de ir ao mesmo cinema, um dos poucos que ainda está no centro da cidade e não nos shoppings, de preferencia nos fins de semana á tarde, que antigamente se chamava matinée. Neste horário sempre encontro veteranas bem vestidas, elegantes, com aparência de solteiras, desquitadas, outras com caras de separadas ou viúvas. Como gosto de chegar bem antes da sessão começar, outro dia fui surpreendido com algumas destas veteranas se deliciando com seus celulares e tablets. Uma que estava sem aparelho tentava chamar a atenção da colega ao lado, que estava no celular, dizendo que havia colocado um celular no caixão do Hermógenes, seu marido, que ella amava mucho, falecido há pouco, com a esperança de poder comunicar-se com ele quando ele chegasse ao céu. A amiga deixou o celular um instante, levantou o olhar como duvidando, e a viúva tranquila continuou, lhe deixei o número da minha filha, você sabe, eu não tenho celular. A penumbra da sala não me permitiu saber se a velhota falava sério ou se estava zoando com a amiga.

Semana passada li um informe que dizia que mais de 5 bilhões de pessoas tinham um telefone celular em 2018, uns 70% da população. Destes 2,4 bilhões, uns 35% da população são smartphones, os que permitem a comunicação via WhatsApp, Facebook e outras bugigangas mais. E não para de crescer, para o ano próximo pode chegar à metade da população. Uma grande parte destes, o pioneiro e queridinho da Apple. Não sei se estão considerados os que têm mais de um, como meu amigo dono de uma agência de viagem, que tem um de cada empresa de telefonia, incluindo o rádio da Nextel. E a coisa não parece ter fim.

Uns anos atrás, não muitos, havia uma dúvida sobre qual aparelho iria sobreviver no mercado, capaz de manter a praticidade necessária e acoplando mais funções. Por enquanto, venceu o celular, que nestes últimos anos foi varrendo do mapa vários outros aparelhos como o telefone, com ou sem fio, a câmara fotográfica, o GPS, o relógio, o termômetro, o rádio, qualquer reprodutor de música, parte dos notebooks, parte da TV, e se anuncia para logo a função de scanner.

Meses atrás passei a usar um smartphone que era da Vera e entrei na estatística acima. Mas, confesso, o uso com todo o cuidado, sempre com um pé atrás, cuidando para que ele não tente, como já disse o Ruy Castro outro dia, me substituir também.

Janeiro, 2019

 
 
 

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