A mais bela palavra
- Beto Scandiuzzi
- 13 de ago. de 2018
- 2 min de leitura
Chego a Barcelona numa manhã de verão com temperaturas tão elevadas que mais parecia um país tropical. Como sempre faço, me coloco a ler os jornais locais. El País e La Vanguardia, em formatos tabloides, são os meus favoritos. Num e noutro leio, curioso, que o Instituto Cervantes, uma instituição pública cuja tarefa é promover e ensinar a língua espanhola e difundir sua cultura, lançou mundialmente um concurso para eleger a palavra mais bela da língua espanhola.
Sim, meus amigos, e a gente pensava que havia visto tudo em matéria de concurso.
Antes, selecionaram trinta e cinco palavras sugeridas por personalidades oriundas de países que falam espanhol. Destaco algumas: Shakira sugeriu melíflua, Vicente del Bosque, fútbol, Antônio Bandeiras, alegria, Emilio Botín, Santander, Mario Vargas Llosa, libertad. Via internet, correio e outros meios, se votou e no final ganhou a palavra Querétaro, nome da ancestral cidade mexicana, sugerida pelo ator Gael Garcia Bernal e que significa isla de las salamandras azules.
Poderíamos passar dias discutindo por que o público elegeu tal palavra. Alguns dizem que sua pronúncia com um Q no início, vários Rs entrecortados com vogais distintas determina uma pronúncia com um som indescritível. Outros opinam que foi apenas um ato de compensação histórica aos mexicanos pelo sofrimento causado na época da colonização espanhola.
Os britânicos já haviam feito algo parecido anos atrás ganhando, com muita justiça, a palavra mother/mãe. Enquanto refletia sobre o tema, pensei: se ingleses e espanhóis podem, por que não escolher a mais linda palavra da língua portuguesa? E a exemplo do Instituto Cervantes, pedi a trinta e cinco brasileiros que me enviassem suas palavras preferidas.
Destaco algumas sugestões: Pelé, Pelé, Zagallo, treze, Niemayer, arquitetura, Sílvio Santos, baú, Abílio Diniz, pão de açúcar, Mauricio de Souza, Mônica, Roberto Carlos, o cantor, jovem guarda.
Após vários dias de votação, numa disputa feroz, porém sem surpresa, ganhou a palavra Aramina que eu mesmo havia sugerido. Claro, alguém poderia duvidar da vitória cantada com antecipação? E aos que estão com ar de dúvida, destaco um votante que justificou seu voto pela sonoridade única que gera esta palavra com tantos As, no princípio, no meio e outro no final. Outros argumentaram que sua combinação de vogais, entremeadas por consoantes, é única no nosso alfabeto.
E confirmo que não há nada mais melódico que pronunciar Aramina colocando sílaba por sílaba na ponta da língua e deixando-as escapar como se fossem notas musicais de uma sinfonia de Beethoven. Li que alguns não estiveram de acordo com a eleição de Querétaro, pelo fato de que a palavra nem está no dicionário espanhol. Antes que alguém use esse argumento contra nossa mais bela palavra, digo logo que Aramina já honra nosso dicionário.
– Aramina, s.f. – fibra têxtil do carrapicho.
Claro, faltaria completar, a capital do meu coração.
Julho, 2011
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