A paz esteja com todos vocês
- Beto Scandiuzzi
- 1 de ago.
- 3 min de leitura

Outro dia uma notícia no jornal me chamou a atenção. Dizia a informação que, Getúlio Vargas, presidente do Brasil durante a Segunda Guerra Mundial, com medo de algum ataque aéreo nazista, editou um decreto obrigando que todos os novos prédios do país com mais de quatro pavimentos e área superior a 1.200 metros quadrados, deveriam ter abrigos antibombas. E a notícia completava com a curiosa descoberta de um bunker dessa época, construído num edifício no centro da capital mineira, em bom estado de conservação e aberto à visitação pública incluindo guias. Podia abrigar 306 pessoas por no máximo três horas, tempo em que se calculava que duraria o ataque. Supõem-se que vários outros foram construídos em várias cidades brasileiras até que o decreto fosse revogado em 1947, dois anos depois de terminada a guerra. Na cidade do Rio de Janeiro mais de trinta abrigos antiaéreos já foram identificados em prédios históricos do centro e zona sul, na capital paulista outros dezenove e é possível que tenhamos também alguns escondidos aqui na nossa metrópole. Por sorte nenhum deles foi utilizado para o propósito do decreto.
Da Europa, milenar, de tantas histórias e guerras, a origem dos bunkers, palavra inglesa de origem alemã, remonta à Primeira Guerra Mundial com o advento da aviação, tanto militares como os destinados a proteger a população em geral. Alguns deles ganharam fama e fascínio como o de Mussolini em Roma e o mais famoso de todos, o de Hitler, em Berlim, onde se escondeu e suicidou-se junto a sua companheira e esposa, por poucas horas, Eva Braun, e alguns fiéis seguidores ao final da guerra em 1945.
Eu ainda não era nascido quando terminou essa Segunda Grande Guerra. Mas me contava meu pai que, lá no lugarejo perdido onde ele morava e eu nasci, quase nada se sabia das batalhas que se travavam a quilômetros de distância e nada afetava ou preocupava os moradores, quase todos trabalhadores da terra. Como por lá construções de prédios havia poucas, nenhuma de quatro pavimentos, a lei passou desapercebida. Nenhum bunker foi construído.
Mas, seguia contando ele, havia sido diferente, anos antes, quando da revolução de 1932 entre o governo federal e o estado de São Paulo. Uma parte do exército mineiro, que conformava com outros estados o exército federal, entrou no estado paulista por uma ponte sobre o rio Grande próxima ao lugarejo. Uma batalha foi travada a tiros de canhão, metralhadores e fuzis, e vencida pelos mineiros que, por um tempo, ocupou a cidade. Acho que só para descansar, o lugarejo não tinha nenhum valor estratégico e nenhum bunker foi construído prévio ao combate para proteger a população.
Desnecessários, quase todos os cidadãos se esconderam nas fazendas próximas ao lugarejo. Os que ficaram na cidade tampouco foram importunados. O tenente ficou amigo e bastava, dia sim dia não, enviar às tropas mineiras acampadas um pouco de comida: um porco, um bezerro, umas galinhas e ovos frescos. Uma festa para quem estava acostumado a comer farinha de mandioca e jabá.
N.A. “A paz esteja com todos vocês”, foram as primeiras palavras ao público de Leão XIV, quando da sua anunciação como papa. Por um mundo sem guerras. Há 80 anos do final da Segunda Guerra Mundial. Mais de 40 milhões de pessoas morreram no conflito.
José Humberto Scandiuzzi
É engenheiro e autor de três livros de crônicas. Escreve no blog www.blogdobeto.com.br
Leitura leve e agradável, li e nem percebi que estava em pé, na porta do escritório com smartphone em uma das mãos e a outra cutucava o queixo com o indicador. Como gosto deste tipo de texto os minutos passaram. Voaram.
Como sempre, excelente!!!!!!🥰
Mais uma curiosidade de Getúlio Vargas que eu não sabia. Muito bom você ter escrito.
Curiosas as histórias contadas!!Adorei!