Ah, esses ingleses…
- Beto Scandiuzzi

- 6 de nov. de 2019
- 2 min de leitura
Qualquer um que chega à Inglaterra poderia perguntar: como esses ingleses chegaram a dominar meio mundo por séculos fazendo tudo ao contrário? Foi também a pergunta que me fiz quando cheguei outro dia a Londres numa manhã de fim de verão com um sol esplêndido e temperatura agradável. Saindo do aeroporto em direção à cidade já se notam as primeiras diferenças: trafegam pela esquerda, o motorista está do lado direito e as distâncias se medem em milhas e jardas. E o táxi naturalmente foi pago em libras, a moeda deles e mais valorizada em todo o mundo.
E as diferenças seguiram quando cheguei no hotel: as tomadas de eletricidade são também únicas com três pinos quadrados e grossos em forma de triângulo, que dizem são mais seguras que qualquer outra. Mas o mais complicado foi quando tentei abrir a torneira do chuveiro para tomar banho. Haviam duas e foi impossível abri-las e combinar a saída de água do chuveiro no alto com a temperatura da água. Depois de muito tentar, apareceu um inglês, que deveria ser o único que trabalhava no hotel, me explicou tudo e se foi. No dia seguinte foi impossível repetir o que o inglês havia me ensinado e só me restou tomar banho frio com o chuveirinho.
E poderíamos seguir com o número da roupa e calçados, eu com meu sapato número 42 no Brasil usaria um 9 na Inglaterra, a indicação do peso em libras e stones, a cerveja de barril se deve servir em pinta com uma tira milimétrica de espuma, a temperatura se mede em fahrenheit, o leite se vende em garrafas retornáveis e a comida típica é um peixe frito em farinha de pão com batatas, que dizem em alguns lugares do interior ainda se serve em folhas de jornal. O meridiano de Greenwich, a partir do qual se medem as longitudes e se estabelece o fuso horário, passa aí ao lado de Londres, inventaram o futebol e quase todos os esportes, têm o parlamento mais antigo do mundo, uma rainha que reina desde 1953, o cerebral detetive Sherlock Holmes, o mítico agente secreto 007 e se fora pouco nos presentearam com os Beatles e sua música genial e inesquecível.
É claro que cada país tem suas particularidades, porém os ingleses, mais que qualquer outro povo, resistem às mudanças mantendo velhos hábitos como o ônibus vermelho de dois andares, a casinha do telefone, a caixa do correio, o táxi preto com aquele desenho quadrado e antigo, o chá da cinco, a troca da guarda da rainha no palácio de Buckingham repetida desde 1654. O laço final veio em 2016 com a decisão, através de um plebiscito, de deixar a comunidade europeia, como a dizer, somos ingleses, somos diferentes, nos bastamos.
E, se na minha chegada o dia estava esplêndido e ensolarado, o último dia da minha estadia amanheceu carrancudo, chovendo e com temperaturas baixas tanto medidas em celsius como em fahrenheit como a lembrar aos estrangeiros: isso é Inglaterra e vivemos bem assim. Não é necessário voltar!
Outubro, 2019

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