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As camisinhas Fromms

  • Foto do escritor: Beto Scandiuzzi
    Beto Scandiuzzi
  • 9 de set. de 2019
  • 2 min de leitura

Num 12 de junho como o que passou, em 1987, Ronald Reagan, o cowboy presidente dos EUA a época, diante de mais de 40 mil pessoas pronunciou um discurso profético de costas para o Portão de Brandemburgo, então parte do muro que separava em duas a capital alemã Berlim, a soviética e a ocidental.

– Senhor Gorbachev, abra esta porta, derrube este muro, bradou o americano.

Como sabemos, a porta não se abriu nesse dia, mas o muro caiu dois anos depois em novembro de 1989, com um grande e importante aporte do americano. Parte do que restou desse muro, bastante danificado, mas ainda de pé no centro de Berlim, eu visitei em 2015. Ao lado do muro havia parte de uma exposição denominada “topografia do terror”, que retratava ou tentava retratar os momentos de angústia vividos naquela Berlim de Hitler. As fotos e os relatos são impactantes. Entre as tantas pessoas ali mostradas, me chamou a atenção uma, Julius Fromm. Eu não sabia, mas estava lá. E 1914 Julius havia inventado a camisinha de látex como a conhecemos hoje sem costura e mais confortáveis e confiáveis.

Em 1938 Julius, que era judeu-polaco, foi perseguido, obrigado a vender sua fábrica e deixar o país. Morreu em 1945, de emoção dizem, quando terminou a guerra e soube que poderia voltar à Alemanha. A família recuperou a patente e hoje as camisinhas Fromms são das mais populares por lá.

Quando me casei conheci uma velhinha, gentil, muito simpática e que morava na vizinhança da nossa casa. Ela teve dois filhos, uma raridade numa época quando todos os casais tinham muitos filhos. Certa ocasião lhe perguntamos como havia conseguido ter somente dois filhos sabendo que nesses anos, década de 30, 40, não existiam os métodos anticonceptivos. A camisinha de Fromm ainda não havia chegado ao Brasil e as pílulas só chegariam muitos anos mais tarde.

Eu já tinha ouvido falar de um tal coito femoral, quebra-galho daqueles tempos sem camisinha, mas não foi o que ela me respondeu. E assim, muito tímida, humilde, com um sorriso pela metade, nos disse:

– É, fio, nós fazíamos a festa na igreja e soltávamos os foguetes do lado de fora.

Mais claro impossível. Se vê que para ela nem camisinha Fromms nem pílulas fizeram falta para cumprir com o seu objetivo de ter poucos filhos. Por muitos anos, equivocadamente e injustamente, seu marido levou o apelido “nas coxas”.

Julho, 2019

 
 
 

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