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As “quentinhas”

  • Foto do escritor: Beto Scandiuzzi
    Beto Scandiuzzi
  • 18 de jan. de 2019
  • 2 min de leitura

O voo saiu atrasado, chegou atrasado em Guarulhos e eu perdi o LiraBus das 10h30 para Campinas. Me sobrou um bom tempo para ler o jornal e apreciar o movimento. E de olho atento na bagagem, esperto que fiquei, desde quando fui roubado como uma besta, neste mesmo aeroporto uns anos atrás.

O aeroporto, maior do Brasil, tem movimento comparado a qualquer cidade média da Europa ou Estados Unidos; mesmo assim, a oferta de serviços é imensa e variável. Com muitas pessoas indo e vindo, fora os muitos que trabalham lá, é um imenso mercado persa para serviços regulares e irregulares, dos que tentam fazer uns trocados na crista da onda da recessão econômica.

Mal tirando para o sustento, muitos não pagam um tostão de imposto e nem contribuem para a Previdência, que mais uma vez será reformada achatando o salário dos privados e que menos recebem, e protegendo as boas retiradas dos políticos e chegados ao poder.

Dos tradicionais serviços de massagem, engraxate, livros religiosos, água, biscoito, salgadinhos, a grande novidade deste verão, parece, é a oferta das “quentinhas”, o nosso famoso “marmitex”. Pelo desconhecimento da origem de fabricação, vá saber onde foram feitas, olhando aquilo pensei: “Ninguém vai comprar esta comida”.

Dito e errado. Quando me acomodei no ônibus, sentou-se ao meu lado uma senhora, meia idade e que parecia, pelo jeito, classe média chegando de Miami. Conversou rapidinho com a colega ao lado, tirou o celular da bolsa, conferiu as mensagens, colocou uns óculos de sol estilo Jacqueline Kennedy e finalmente, para minha surpresa, tirou da bolsa uma “quentinha”, igual à que eu tinha visto antes na mão dos vendedores.

Estiquei o olho, estava cheirosa, parecia bem-feita e eu não pude deixar de perguntar quando ela terminou de comer:

– Senhora, me desculpe a pergunta, estava boa a “quentinha”?

– Boa? – respondeu ela. – Estava ótima, e, te juro, bem melhor do que as “quentinhas” que a polícia serve aos presos da Lava Jato em Curitiba.

E nem sei nem quero saber como são as “quentinhas” de Curitiba, mas que a referência era boa, ah, isto era! Mas mesmo assim, me ficou a dúvida, se ela estava espinafrando a comida deles ou gozando com a cara dos presos, maioria de políticos e de colarinho-branco.

Janeiro, 2017

 
 
 

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