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Café Regina

  • Foto do escritor: Beto Scandiuzzi
    Beto Scandiuzzi
  • 7 de fev. de 2019
  • 2 min de leitura

Um dos Cafés mais antigo que já pisei é o Café Tortoni de Buenos Aires. Fundado em 1858 está no mesmo lugar, Avenida de Mayo, desde 1920. Um verdadeiro ícone da cidade. Por suas mesas de mármore e madeira passaram e passam gente famosa do mundo todo, intelectuais, artistas, turistas e comuns como eu em busca de, mais do que um café, daquele ambiente aristocrático, único, onde o tempo parece não haver passado.

Mas quem passa pelo centro velho de Campinas não vai escapar de tomar um café no velho Café Regina, um dos mais tradicionais da cidade. Já sessentão vai resistindo ao passar dos anos, alheio a estes novos tempos, velozes, efêmeros e ávidos por novidades. O café tem frequentadores diversos, políticos, escritores (Antônio Contente entre eles) e assíduos de todos os tempos.

Tem uma particularidade, ao lado dos cafés tradicionais, como os expressos, pingados, oferece o velho café no bule, coado na hora no velho coador de pano, como se fazia antigamente, antes que aparecesse o papel Melita. Sempre com muita gentileza e simpatia e ao gosto de cada cliente.

De vez em quando apareço por lá, por um café de bule e na esperança de encontrar algum velho conhecido. Outro dia, já acomodado no balcão e sorvendo o meu café em pequenos goles demorados, sinto que alguém cutuca meu ombro. Viro-me de imediato e dou de frente com uma cara, que logo reconheço, sorrindo para mim.

Um antigo colega de trabalho. Também abro um sorriso e nos abraçamos felizes pelo encontro depois de tanto tempo. Conversa vai, conversa vem e não consigo me lembrar do seu nome. Que saia justa. Enquanto prosseguíamos com nossa conversa, amenidades, tento repassar mentalmente nosso passado comum buscando alguma pista que me levasse ao seu nome. Em vão. Chego a me lembrar do seu apelido, que me recuso a usar por educação.

Eu mal podia dissimular o incômodo da situação e mentalmente excomungava o alemão, cujo nome começa com A e que qualquer um já sabe de quem se trata, e que impedia que eu me lembrasse do nome do colega. Passado algum tempo, terminado o café, nos despedimos e o que pude fazer foi desejar boa sorte e mandar lembranças à família que eu nem conhecia.

Como já dizia o velho mestre Quintana, “o cérebro humano arquiva tudo, o único transtorno desta maravilha é que a gente vive perdendo as chaves do maldito arquivo”.

Novembro, 2013

 
 
 

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