top of page

Campo dos sonhos

  • Foto do escritor: Beto Scandiuzzi
    Beto Scandiuzzi
  • 11 de dez. de 2020
  • 2 min de leitura

Que horas são? Pensava eu já correndo a olhar o velho relógio Westclock com um cavalinho negro ao centro cavalgando ao ritmo do tique-taque, e que tínhamos sobre a mesa da cozinha. As horas passavam lentamente à espera do grande evento de todo dia: jogar futebol com os amigos. Mais que futebol, o que tínhamos era uma pelada improvisada num terreno entre eucaliptos, troncos de árvores, touceiras e vários acidentes geográficos.

Naqueles tempos da minha infância, a vida nos parecia um tédio e jogar futebol era a grande diversão na minha pequena cidade, onde pouco e nada acontecia. Durante boa parte daqueles tempos, não tínhamos um campo de futebol para jogar. O que havia, o glorioso estádio Juvenal Campos, esteve fechado por vários anos numa reforma do gramado que não terminava nunca.

Um dia, cansados de tanto sofrer, decidimos construir nosso próprio campo. De futebol de salão, que a gente chamava de quadra, e que nos parecia mais moderno e impressionava melhor as “minas”. Assim, juntando forças, nos colocamos a trabalhar, dias e dias, transportando barro, nivelando o terreno, aguando e compactando o piso. Só depois de iniciado o trabalho é que percebemos a fria em que tínhamos entrado. Era muito trabalho. Por sorte, uns primos mais velhos deram uma mão e o campo nasceu. Que alegria, um campo só nosso, para jogar quando e quanto quiséssemos. Um sonho!

Hoje, no terreno, se construíram casas, mas, cada vez que passo por lá, penso sempre o mesmo: quantas caneladas, joelhos raspados, pés em frangalhos, desentendimentos por faltas não marcadas, ou marcadas no grito. E sem falar das inumeráveis discussões pelas bolas que passavam fora do gol, mas que jurávamos que fora por dentro, gols legítimos e anulados, partidas que entrevam pela noite e só terminavam quando o resultado estivesse claramente definido para um dos lados. Que momentos felizes vivíamos.

Muitos anos mais tarde, Kevin Costner fez um belo filme, um dos melhores, e que ficará na memória de quem o assistiu: “Campo dos sonhos” – (Field of dreams), cujo título, traduzido livremente é, “Se você construir, ele virá”.

O filme conta a história de um fazendeiro (Ray) que tinha um sonho: construir um campo de baseball com a expectativa de ver jogar seus velhos ídolos que já haviam morrido. E, no lugar do seu milharal, construiu o seu campo. E seus ídolos vieram, e jogaram. Uma experiencia que emocionou crítica e público. E a mim.

Como Ray, nos também havíamos construído nosso campo dos sonhos. E, de certa forma, também sonhávamos cada dia que nossos ídolos viessem e jogassem conosco. E estou certo que jogaram.

Agosto, 2014

 
 
 

Comentários

Avaliado com 0 de 5 estrelas.
Ainda sem avaliações

Adicione uma avaliação
bottom of page