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Carta de amor

  • Foto do escritor: Beto Scandiuzzi
    Beto Scandiuzzi
  • 5 de ago. de 2019
  • 2 min de leitura

Janeiro já anda pela metade e ainda não consegui escrever uma linha sequer. Penso, penso e nada, não me chega nenhuma ideia, nem uma bobagenzinha qualquer de assunto. Que inveja do velho Rubem Braga, que publicava diariamente crônicas e ainda fazia outras tantas de lambuja.

A última crônica que escrevi foi no ano passado, em dezembro, uma carta ao Oscar, o arquiteto, que, agora me lembro, ele ainda não respondeu. É, eu até entendo, depois de tantos anos aqui na terra ele vai levar algum tempo para se acomodar lá no céu, ou onde quer que ele esteja morando agora.

Na falta de assunto, pensei: faça como todos, escreva sobre o ano que passou, que passou tão rápido que nem viu passar. Fale das muitas derrotas doloridas e definitivas e das poucas vitórias, passageiras e sem glória. Fale do ano novo que chegou, com promessas velhas e repetidas, das muitas dúvidas que afligem a alma nesses tempos divididos entre a fé e a razão.

Estou mergulhado nesses pensamentos quando, caminhando, entro numa rua, que não conhecia e que me faz lembrar de você. É, encontrei uma rua com seu nome, coisa rara por aqui. E me deu vontade de escrever essa carta, uma carta ao melhor estilo dos velhos poetas, cheia de amor e saudade. Nem me lembro bem da última vez que te escrevi, já se passaram tantos anos, quando ainda éramos jovens e destemidos.

Que vontade de dizer que estou com saudade, não uma saudadezinha qualquer, uma saudade de adolescente, que dói, quando se é capaz de morrer de amor. Uma saudade de menino longe de casa com vontade de voltar. Saudade de estar com você, de te abraçar, de me deitar no seu colo, sentir o seu cheiro que vive nas minhas narinas, acariciar com meus dedos trêmulos seus seios macios, beijar seus lábios e fazer o amor como só nós dois sabemos fazer. Sem nenhum tom de cinza.

Que vontade de dizer que te amo, mas, você sabe, sempre fui melhor com as letras que com as palavras. É verão e o sol brilha como uma tocha de fogo, crianças correm e gritam numa alegria inocente e pura, pássaros cantam, e um vento sopra lerdo, roçando a copa das árvores mais altas. Longe, vindo de algum lugar, escuto uma música que fala de amor e por um instante sinto que meu coração remoça, que meus olhos voltam a brilhar, como aquela vez que te vi por primeira vez sentada no fundo da sala de aula.

Como se o tempo não tivesse passado.

Janeiro, 2013

 
 
 

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