Django
- Beto Scandiuzzi

- 6 de nov. de 2019
- 2 min de leitura
Quentin Tarantino é atualmente um dos mais badalados diretores de cinema de Hollywood. Com seu estilo próprio e inconfundível, seus filmes nunca deixam de seduzir e surpreender misturando humor, celebração e nostalgia. Também gosto dos filmes do Tarantino. Semana passada estreou por aqui seu último trabalho, “Era uma vez em Hollywood”, que alguns dizem podem ser o último. Outra obra maestra, emotiva, talvez a mais sincera de todas e um verdadeiro tributo aos momentos finais da época dourada de Hollywood. Mas não é desse filme que quero falar, quero falar de outro, Django Livre, rodado em 2013, uma referência a outro filme homônimo dos anos 60, um espaguete western, que ele, junto com desenhos em quadrinhos, Kung Fu, artes marciais, adora misturar nos seus filmes.
O Django de Tarantino conta a história de horror da escravidão dos negros africanos nos Estados Unidos, durante o século 19, e a viagem de um escravo que busca salvar sua esposa das garras do patrão branco e desalmado, com a ajuda de um caça-recompensa de origem alemã. Como em todos os filmes de Tarantino, Django também traz sua marca: humor, violência, sangue aos baldes, música apoteótica, diálogos inteligentes, paisagens áridas e …surrealismo.
Ninguém podia imaginar que a escrava e negra a ser libertada, perdida naquele cafundó do sul escravista americano e de nome Broomhilda, falasse alemão fluentemente. A gente poderia pensar que uma negra escrava daqueles tempos mal pudesse falar os idiomas tribais africanos, mas falar alemão, só mesmo Tarantino.
Broomhilda me fez lembrar uma época em que trabalhava numa empresa alemã. Havia uma secretária que os jornais de antigamente diziam de cor negra, brasileira e que falava fluentemente o alemão. Casada com um alemão, viveu alguns anos na Alemanha e lá aprendeu o idioma com perfeição. De vez em quando o presidente da empresa tocava o seu telefone e pedia a sua ajuda. Eram tempos sem computador, onde as cartas eram ditadas, datilografadas e enviadas por correio.
O presidente dizia que seu alemão era perfeito e que não havia na empresa nenhuma outra pessoa com seu conhecimento gramatical da língua de Schiller. Quando era chamada, ela ajeitava o cabelo espichado, erguia a cabeça, ajeitava os peitos e cruzava todo o andar em passos lentos, sabendo, de antemão, que vários pares de olhos azuis das outras secretárias de cabelos loiros e rostos arianos a estavam seguindo. De boca aberta e morrendo de inveja.
Quase tão surreal como a Broomhilda do Tarantino.
Agosto, 2019

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