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Falando de notícias

  • Foto do escritor: Beto Scandiuzzi
    Beto Scandiuzzi
  • 9 de set. de 2019
  • 2 min de leitura

Com notícias mil bombando na internet a todo instante vinte quatro horas por dia numa velocidade alucinante, estamos sempre nos perguntando se são todas verdades ou mentiras. Difícil avaliar. O Correio, querendo ajudar os seus assinantes nesta árdua tarefa, lançou uma seção diária dedicada a vigiar o noticiário falso que circula na mídia de todos os tipos. A TV Globo também faz algo parecido com um Detetive Digital aos domingos no Fantástico. O certo é que de forma deliberada existem, por razões distintas, jornalistas pagos para plantar notícias falsas em todas as mídias.

Notícias falsas na imprensa não é coisa de agora, sempre existiram, mas eram, vamos assim dizer, como brincadeiras, trotes aos leitores. Nos anos 60, o famoso filósofo francês Paul Sartre visitava Belém (Pará) ao lado da sua esposa, não menos famosa, Simone de Beauvoir quando um repórter que passava férias por lá o reconheceu e quase provocou uma comoção mundial ao anunciar a sua morte no jornal carioca A Tribuna. Como se pode supor, tempos outros, comunicações precárias, a notícia falsa só foi desmentida na edição do jornal do dia seguinte, quando um Carlos Lacerda, ele mesmo, editor do jornal, furioso, exigia um defunto nem que fosse o do incauto jornalista.

Antes de morrer o ano passado, Fidel Castro havia sido dado como morto umas quantas vezes enquanto ia escapando de atentados, a maioria, arquitetados pelos americanos, maior inimigo dele. O fim do mundo também já foi várias vezes anunciado ao longo dos tempos. Por Nostradamus, o mais famoso deles, e por tanto outros desconhecidos, como meu avô Gildo, que em tardes sonolentas, ensolaradas e vazias, cansado do mundo, desanimado com a vida, cachimbo num canto da boca dizia que o mundo também ia acabar.

E o que dizer das notícias mal interpretadas?

Era a mulher do farmacêutico e mais querido cidadão do lugar onde eu nasci. Certa manhã ela chega correndo à farmácia, semblante preocupado com o jornal na mão.

– Olha, diz ela, que desastre feio, um caminhão de rodas para o ar, enquanto mostra o jornal para o marido. Ele olha, dá um sorriso e responde carinhosamente que não se tratava de acidente. Falava e ajeitava o jornal que estava de cabeça para baixo. A pobre mulher era analfabeta.

No dia 9 de abril de 1973, no ônibus a caminho da faculdade, eu lia o jornal ao lado de um amigo quando ele, de repente, caiu em prantos. Ante minha surpresa ele apontou a manchete no alto de uma coluna do jornal, Morreu Picasso. Ele, são-paulino doente, pensou logo tratar-se da morte do ex-goleiro do São Paulo nos anos 70 e do qual ele era fã. O pranto foi em vão, o jornal anunciava a morte do grande pintor espanhol Pablo Picasso ocorrida na França no dia anterior. Eu não chorei, eu conhecia pouco de um e quase nada do outro.

Março, 2017

 
 
 

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