Falando em banheiros
- Beto Scandiuzzi
- 5 de nov. de 2018
- 2 min de leitura
Sempre gostei dos banheiros grandes, iluminados e atapetados. E com muitos espelhos. Resquícios da infância pobre, quando se banhava na bacia d’água e a privada era de fossa lá no fundo do quintal. Visitei Buenos Aires por primeira vez nos anos 80. De espanhol sabia pouco, mas que a gente pensa ser muito até a hora que aparecem os problemas e a vaca acaba indo para o brejo. Estava eu numa visita a um cliente quando tenho uma repentina dor de barriga. Saio da sala de reunião e caminho apressado por um corredor comprido em busca de um banheiro. Encontro antes uma pessoa a qual pergunto:
– Banheiro, por favor, num clássico portunhol de turista de primeira viagem.
Ele me olha espantado dando a entender que não havia compreendido minha pergunta. Rapidamente repito banheiro, toalete, WC, já preocupado e tentando sinalizar com o gesto universal, de indicação de urinar. Ele abre um sorriso e me diz:
– Ah, un baño?
Aí fui eu que não entendi nada. Poderíamos ter ficado horas ali, provavelmente eu com as calças molhadas. Mas ele foi rápido no pensamento e saiu caminhando e indicando que eu o deveria seguir. Quando ele chega ao banheiro com a plaquetinha com o desenho do homem, a coisa se resolveu. A tempo de salvar minha cueca. Alguns anos mais tarde, passando por Lisboa, descobri que lá banheiro é casa de banho, como bem dizia o argentino.
Uma vez, estando na Alemanha, tive outra surpresa. Procurando por banheiro o que encontro é uma porta por onde entravam homens e mulheres. Sim, meus amigos, um banheiro comum. E lá dentro quem fazia a limpeza era uma mulher. Claro que não havia os exclusivos sanitários masculinos, talvez para manter a neutralidade do lugar.
Mas o melhor de tudo me aconteceu outro dia no aeroporto de Congonhas em São Paulo. Entro no banheiro masculino e o que vejo é algo inédito, digno da criatividade humana. Havia dois banheiros reservados, e um deles com uma placa onde se lia:
– Para pessoas de baixa estatura.
Surpreso, me coloco a pensar no porquê daquela discriminação. O primeiro pensamento que passa na minha cabeça tem a ver com o aspecto físico. Olho a porta do banheiro, que era do tipo comum, sem portal, e concluo, sem muito esforço, que não era um impedimento para passagem de pessoas de alta estatura. E minha curiosidade cresce. Penso, se o problema não está na porta, deve estar dentro, talvez um vaso mais baixo, para facilitar as pessoas de baixa estatura. Tento abrir a porta e, surpresa, a porta estava fechada. Não pude descobrir a razão de um banheiro tão exclusivo. E sigo sem saber!
Enquanto isto leio que o governo de Pequin baixou uma lei proibindo mais de duas moscas por banheiro público na cidade. Todas sabem da fama dos banheiros na China. Com meus botões, fico imaginando como o governo chegou à conclusão de que duas moscas era a conta certa, não uma, nem três. Coisas de algum iluminado, como o que definiu o banheiro exclusivo para pessoas de baixa estatura em São Paulo.
Maio, 2012
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