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Falta de assunto

  • Foto do escritor: Beto Scandiuzzi
    Beto Scandiuzzi
  • 5 de nov. de 2018
  • 2 min de leitura

Há quem afirme que a falta de inspiração é a pior vilã dos cronistas. De vez em quando aparece algum reclamando sobre esse tema. Outro dia foi o cronista do Correio, José Roberto Martins, quem tocou no assunto e expôs, na sua coluna, toda sua indignação, consigo mesmo, por não encontrar um assuntozinho que fosse para a sua crônica semanal. E colocou toda a responsabilidade no seu cérebro pelo vazio de ideias.

Mas a afirmação não vale para todos. Por exemplo, o Carlos Heitor Cony, cronista, escritor e que nos deixou agora no começo do ano, não passava por estes vexames. Dizia ele que não temia uma folha de papel em branco na sua frente. Quando tinha de escrever, sentava e escrevia, quase sempre lindas crônicas ou romances. O Rubem Braga, cronista 100%, era outro que não temia uma folha vazia, dizem que escreveu mais de quinze mil crônicas em toda sua vida, o que dá quase uma por dia. E uma melhor que a outra. Dos que ainda estão vivos, poderia citar o Ruy Castro, outro que, parece, não se afoba com este tema e comparece quase todos os dias com sua coluna na segunda página do jornal Folha de São Paulo.

Voltando ao José Roberto, à falta de qualquer reação do seu cérebro vazio de ideias, e como teria que cumprir com o compromisso de entregar a crônica semanal ao jornal, ciscou daqui, ciscou dali, e terminou escrevendo qualquer coisa sobre grandes desertos, Saara, Atacama, Gobi, este último que eu já nem me lembrava mais onde ficava.  Se fosse eu, teria ligado para o jornal e dito:

– Pessoal, estou sem assunto, esta semana não tem crônica.

Eu, que de vez em quando me atrevo a escrever algumas “bobageras”, como dizia o pai do escritor Mario Prata, às vezes também sou pego nesta sinuca de bico, como se costumava dizer lá na minha terra; totalmente sem inspiração também não encontro nenhum assuntozinho, nem para o gasto. É o caso desta crônica. Sem saber nada sobre desertos, eu poderia seguir dizendo da falta de chuva, da baixa umidade do ar, das cinco ideias fundamentais para entender Karl Marx, o filósofo alemão que inspirou a revolução russa, quando esta completa duzentos anos do seu nascimento ou da longa investigação da Lava Jato sobre se o sítio de Atibaia era ou não do Lula.

Mas, diferentemente do José Roberto, por sorte, não tenho nenhum compromisso formal com o jornal, apenas com o meu reduzido público. E, pensando bem, é melhor ficar por aqui do que ficar tentando encher linguiça e assim poupar meus raros leitores de perder tempo lendo “bobageras”.

Bom dia.

 
 
 

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