Fantasmas
- Beto Scandiuzzi

- 3 de abr. de 2020
- 2 min de leitura
É certo que nos dias atuais, nesse mundo digital e urbanizado, já quase ninguém fala nem tem medo de fantasmas. Mas antigamente não era assim, havia sempre alguém que conhecia ou tinha presenciado, e suado frio, alguma história de fantasma. Saci-pererê, mula sem cabeça, lobisomem, eram parte do cotidiano das pessoas daqueles tempos antigos da minha infância. Além destes, comuns a quase todas as pessoas, existiam os fantasmas que cada um ia criando na sua imaginação. Eu mesmo, durante anos da infância convivi com um fantasma que morava no prédio da máquina de beneficiar arroz que ficava quase em frente à minha casa. Eu nunca o vi, mas que ele estava lá estava.
Nos últimos anos temos passados dias maravilhosos com alguns amigos de toda a vida no rancho do Deus Me Livre às margens do meu Rio Grande. Ouvindo música caipira, jogando truco, conversa fora e lembrando causos de tempos passados. Tudo regado com boa cerveja, Campari e boa caninha.
Outro dia o meu irmão Toninho, companheiro frequente, teve que ir a Aramina. Era um fim de tarde e quando ele voltou já era noite. Quando chegou ao rancho, com os olhos arregalados e o coração na boca, contou que no caminho de volta quase havia tido um acidente, ao cruzar com outro veículo que trafegava em alta velocidade, em sentido contrário e na contramão. Sinais de luzes, buzina, nada fez com que o carro voltasse à sua mão. Somente um movimento ágil da sua parte jogando o carro para a esquerda pode evitar a trombada. E mais, disse que o outro carro seguiu em frente como se nada tivesse acontecido.
Ouvimos a sua história em silêncio, já era tarde e fomos dormir.
No outro dia de manhã, uma manhã diáfana como quase todas por aquelas bandas, ele se levantou, plantou-se na nossa frente e disse que não havia pregado os olhos pensando no quase acidente da noite anterior. Achava que havia cruzado com um fantasma. Por três detalhes: o quase acidente havia sido em frente a um velho e frondoso ipê, que muitos dizem ser assombrado, era uma sexta-feira e o carro não havia deixado poeira numa estrada de terra.
Eu fiquei pensando com meus botões, do ipê assobrado eu nunca havia escutado, mas podia ser, a sexta-feira era certo, e com respeito à poeira, tinha lógica a sua conclusão, a estrada é toda de terra, um carro normal levantaria poeira. E muita. É, acho que o mano realmente viu um fantasma, quase certo o do Tubiinha ou do Toni Colmanetti, antigos donos de alambiques de pinga que ficam na região próximos ao rancho e que já passaram desta para outra melhor.
O assunto se encerrou com um conselho dado ao mano: para evitar fantasmas, é só reduzir a dose da branquinha.
Abril, 2019

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