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Frango com polenta

  • Foto do escritor: Beto Scandiuzzi
    Beto Scandiuzzi
  • 11 de abr. de 2019
  • 2 min de leitura

Quando eu era pequeno, quase tudo que a minha mãe necessitava na cozinha vinha de um quintal grande que havia no fundo da nossa casa. Carne, frutas, verduras e legumes. A mesa era sempre farta, e o que faltava, leite, arroz, feijão e fubá, chegava de um pequeno sítio que ficava não muito longe de casa, e que meu pai tocava junto com os irmãos e uns primos.

Eu esperava ansioso pelos domingos, dia de comer arroz temperado com massa de tomate e frango assado. De vez em quando, havia um guaraná caçula que a gente bebia através de um furo fino de prego na tampinha. Tática que retardava o consumo e elevava o prazer.

O frango, antes de ir de pernas para o ar para o forno do fogão à lenha no domingo, era separado e deixado em quarentena. Trancado no galinheiro, ele só comia milho bom, engordava e ficava com as tripas limpas, explicava minha mãe.

Quando a comida estava pronta, nos sentávamos à mesa. Era o único dia, que me lembro, de almoçar com meu pai. Durante a semana ele comia num caldeirão de alumínio que a gente levava na roça onde ele trabalhava. Ele gostava de sentar-se na cabeceira da mesa e esperava paciente enquanto minha mãe cortava e repartia o frango. Só ela sabia que parte cada um gostava. Meu pai gostava de qualquer parte, mas eu só aceitava o peito.

Quando o frango era em molho, meu pai gostava de comer os pés, o pescoço e a cabeça, partes que ele tinha que dividir com a avó Pierina quando ela estava conosco. Mas a briga maior, da qual eu não participava, era pela moela, tão pequena e tão desejada por meus irmãos.

No fim de cada ano, um primo e compadre do meu pai e que morava em São Paulo vinha visitar a cidade e os familiares. Logo no primeiro dia ele passava de casa em casa avisando da sua chegada, marcava o dia que viria jantar e indicava o cardápio. Nesse dia minha mãe caprichava no frango e na polenta, que chegava até a vazar pela borda da travessa de cerâmica esmaltada que ela tinha.

Então, meu pai cedia ao primo importante a honra da cabeceira da mesa. Quando a comida chegava fumegante, o primo grandote e pançudo avançava de um lado e nós do outro. Muitas vezes ele chegou primeiro ao fim da sua metade, e muitas vezes nós ficamos com vontade de quero mais.

Quando terminava de comer, ele dava mais uma prosinha com o meu pai, afrouxava o cinto da calça, agradecia e ia embora. Já com o convite apalavrado para voltar no próximo ano.

A vida era assim, simples e gostosa como um frango com polenta.

Agosto, 2012

 
 
 

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