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Histórias de Catanduva II

  • Foto do escritor: Beto Scandiuzzi
    Beto Scandiuzzi
  • 18 de jan. de 2019
  • 2 min de leitura

Se chamava Pascchoau, é, assim com dois “cs” e “u” ao final, erro do cartorário meio analfabeto, muito comum naqueles tempos, onde ele, já grandote, foi caminhando para o registro de nascimento; era filho de italiano, dos poucos que vieram do Piemonte aos pés dos alpes italianos, e até os vinte anos viveu na roça, caçando lebres, montando potros selvagens e trabalhando na colheita de café no norte do Paraná. Havia apenas concluído o primário numa escola rural onde a professora não chegava em dias de muita chuva e barro. Era moreno, olhos claros, cabelos pretos e abundantes, traços herdados da mãe portuguesa do Alentejo cujo pai era descendente de mouros. Adulto, numa das poucas visitas à cidade, um vilarejo de beira de estrada e de má fama, conheceu a Dulcineia, uma espanhola de olhos verdes, esbelta, legítima da Galícia e que havia chegado ao país com a família logo após a Segunda Guerra Mundial perseguida pelo franquismo. Foi amor à primeira vista. Logo se casaram, se mudaram para a cidade grande e com os poucos recursos comuns, abriram uma padaria onde serviam comida com o melhor das duas cozinhas mediterrâneas. A padaria, de nome Belém, em homenagem a Santa Maria de Belém, protetora da avó materna, que também se chamava Belém, e que estava localizada numa posição estratégica, bem em frente à Faculdade de Medicina e do Hospital de Clínicas. Durante anos ele atendeu aos estudantes que diariamente frequentavam a padaria e quando morreu, com mais de oitenta anos, ainda se podia encontrá-lo, todos os dias, à frente do negócio. E já então era chamado na vizinhança de dr. Pascchoau. É que a convivência com os estudantes como que o habilitava a fazer consultas e receitar aos clientes que o procuravam, não por suas suculentas receitas culinárias, mas atrás dos seus conhecimentos medicinais que ele havia adquirido; com direito a receituário, que ele escrevia a puro garrancho, estetoscópio, sapato e jaleco brancos. Agosto, 2017

 
 
 

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