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Ilhabela

  • Foto do escritor: Beto Scandiuzzi
    Beto Scandiuzzi
  • 8 de jun. de 2020
  • 2 min de leitura

Ilhabela é ilha e é bela, como o nome bem diz. Localizada no litoral norte paulista e, para minha surpresa, é município e tem uns vinte e três mil habitantes. E turistas o ano inteiro. Tem muitas histórias e lendas, próprio de quem tem tantos anos no lombo. Tem montanhas que ocupam quase todo o território e, tão altas que quando se distraem se enroscam nas nuvens baixas, tão baixas que o velho Braga, que entendia de nuvens, as chamaria de stratuscumulus. E nas suas encostas são os ricos que penduram seus bangalôs com sacadas e vistas espetaculares para o mar.

Tem mar manso e cristalino no lado do canal frente à serra e tem mar bravo do lado que dá frente para o oceano infinito. Tem um cemitério de navios afundados com fantasmas que falam inglês, francês, espanhol e até brasileiro. Tem lindas e pequenas praias, algumas escondidas, e madames que ainda levam babás negras para brincar com filhos de pele clara e olhos celestes na areia na fina.

Tem ruas de paralelepípedos que, segundo escutei, foram trazidos pelos portugueses séculos atrás, como lastro nos navios que depois voltavam cheios de ouro, prata e outras riquezas nossas num comércio desleal que mudou o jeito, mas nunca teve fim.

Tem igreja da Matriz da Nossa Senhora D’Ajuda e Bom Sucesso, antiga e misteriosa como devem ser todas as igrejas. Tem pracinha, livraria, sebo, Rua do Meio e lojinhas que vendem de tudo. E belas e jovens morenas. E tem cadeia e Fórum.

Sim, senhor, Cadeia e Fórum. Cadeia e Fórum é da época do Brasil colônia quando se juntavam as partes administrava e judicial das cidades e vilas. Tempos de um Brasil ainda rural, cidades pequenas e de poucos ladrões. Uma cadeia com poucas celas bastava e, para facilitar, agregada ao Fórum. Lá onde eu nasci acho que nem cadeia havia, nem fazia falta. Um ou outro caso, em geral briguinhas de cachaceiros, eram resolvidos com a chegada do soldado da polícia. E, se o caso fosse mais sério, os briguentos eram levados para a cadeia da cidade vizinha. No outro dia, já com o sol a pino, eles eram soltos e ficavam um par de dias sem dar as caras, de tanta vergonha.

O soldado, acho que se chamava Freitas, se dizia pertencer à Força Pública, era gordo e era parte da comunidade, e tinha tempo para pescar, jogar truco e futebol e dormir depois do almoço. E os filhos dele, amigos da molecada.

Bons tempos aqueles. Hoje as cadeias ficaram pequenas diante de tanta criminalidade. E mais e mais presídios são necessários para tanto ladrão, fora os que a polícia nem consegue prender. Já a cadeia de Ilhabela, com suas paredes robustas, janelas ainda com grades, há muito deixou de funcionar, virou Secretaria do Meio Ambiente, acho que por obsoleta, não por falta de hóspede.

Marco, 2014

 
 
 

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