Modéstia à parte

Pablo Neruda, o poeta e prêmio Nobel de Literatura de 1971, nasceu em Parral, região central do Chile, mas dizia que suas principais recordações eram de Temuco, cidade ao sul do Chile onde ele havia passado a infância e adolescência.

“Desta paisagem se impregnou minha poesia. O mar, as montanhas e os rios desta região me ficaram emaranhados em minha alma. Segue chovendo dentro de mim como há setenta anos em Temuco.” Assim escreveu ele num dos seus livros de memórias, um dos meus favoritos, Confieso que he vivido.

Por esse mundo afora onde tenho andado desde minha juventude, quando deixei a casa dos meus pais e minha cidade natal, sempre que me perguntam onde nasci, respondo prontamente e orgulhoso:

– Nasci, modéstia à parte, em Aramina.

Confesso que não inventei a frase, a copiei do mestre Rubem Braga, nascido em Cachoeiro de Itapemirim. Ele dizia que também não era autor da frase, a havia copiado de Noel Rosa, que havia feito uma música em homenagem à sua Vila Isabel.

Assim, não fico constrangido com a cópia, diz o dito popular que quem rouba de ladrão tem cem anos de perdão. Ademais, tanto Noel como Rubem Braga têm tantas frases bonitas, que imagino, não ficarão chateados por esse meu pequeno delito. Mas, mesmo assim, se ficar alguma rusga, prometo pedir perdão, de joelhos, aos dois, quando nos encontrarmos algum dia lá no céu eterno.

Julho, 2013

“Quem disse que eu me mudei? Não importa que a tenham demolido: a gente continua morando na velha casa em que nasceu.”

Mário Quintana, poeta. 1906-1994