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My name is Bond, James Bond.

  • Foto do escritor: Beto Scandiuzzi
    Beto Scandiuzzi
  • 11 de dez. de 2020
  • 2 min de leitura

Eu e o meu amigo inseparável Jorjão suávamos em bica estreando umas japonas de feltro cinza, gêmeas, genéricas, que a minha mãe há pouco havia comprado a caminho do cine Itapuã numa tarde noite de algum domingo de verão de 1964. Foi num intervalo em que o cinema do Paulinho já não estava, e ainda não havia sido construído o cinema do Máximo da minha Aramina, e tínhamos que ir a Igarapava assistir a filmes cada fim de semana. Eu já adorava ir ao cinema. A expectativa era grande porque estava anunciada a estreia de um tal James Bond, o agente especial 007, que tinha até licença para matar. Com uns truques que ele tirava da cartola, sem despentear o cabelo ou amarrotar o paletó. O filme, o segundo da série, Para Rússia com amor, como se chamou em português. Eu não sabia, mas, com seu sorriso irônico, smoking perfeito, magnetismo inconfundível, sedutor incansável, nascia ou estava nascendo o espião mais famoso de todos os tempos. Eu ainda não fumava, mas me prometi que, quando o fizesse, o faria ao seu estilo ou pelo menos tentaria.

O filme, inglês, era toda uma novidade, acostumados que estávamos com as açucaradas comédias românticas americanas com a Dóris Day e Rock Hudson, filmes de cowboys, bandidos, mocinhos e índios, Tarzan e Jim das Selvas. E o que dizer da música título interpretada por Matt Monro, para mim a mais bonita de toda a série, e que o catapultou definitivamente para a fama?

O ator, um escocês bonitão, elegante, até então desconhecido por mim, de nome Sean Connery. Os filmes, um misto de ação, aventura, romance e investigação e lindas garotas, as famosas Bondgirls. Segui assistindo a todos os outros filmes que ele interpretou da série James Bond e quando ele disse chega eu também disse chega: nunca vi um filme de James Bond com outro ator. Ele queria ser outra coisa, tinha talento para outras atuações e eu o segui em O nome da rosa, quando interpreta um padre franciscano na adaptação do livro de Umberto Eco. Ou em Os Intocáveis, no papel do detetive Jim Malone, com o qual ganhou o Oscar. Ou como o indescritível pai de Indiana Jones, e muitos outros filmes sob as ordens de grandes diretores.

Em 2005 anunciou que se aposentava do cinema e foi desfrutar do sol e das praias das Bahamas. E pagar menos impostos segundo as más línguas. Gostava de jogar golfe, uma de suas paixões. Nos últimos anos pouco se ouviu dele, uma ou outra escapada para assistir a torneios de tênis, que ele também gostava. Com ele se vai um pedaço da história do cinema, se vai um pouco daqueles anos 60, efervescentes, revolucionários, dourados, glamorosos, Rock & Roll, Beatles, Jovem Guarda, paz e amor, minissaia, cuba-libre, que nós, então jovens, mesmo naquele fim de mundo, desfrutávamos à nossa moda, acaipirados, com poucos recursos, mas vivenciamos.

Às vezes, nas madrugadas, desperto e meu pensamento me leva de volta para aqueles tempos. E às vezes penso no amigo Jorjão que se foi tão cedo, naquele corpão maciço, todo desajeitado, tentando aprender a dançar twist. Impossível não pensar na efemeridade da vida e na perenidade da morte. Sean Connery está morto. James Bond viverá para sempre. Os diamantes são eternos.

Dezembro, 2020

 
 
 

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