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O mister que veio do Norte

  • Foto do escritor: Beto Scandiuzzi
    Beto Scandiuzzi
  • 29 de ago.
  • 3 min de leitura

Finalmente, algumas semanas atrás, com pompas, bumbos, trompetes e centenas de jornalistas, inclusive internacionais, a CBF anunciou a contratação do italiano Carlo Ancelotti para técnico da seleção brasileira de futebol. Segundo o noticiário, a cúpula da confederação vinha tentando sua contratação desde 2023. Durante esse tempo ele negou qualquer avanço na negociação com o principal argumento de que tinha um contrato vigente com o Real Madrid.

Nesse período, eu o via a beira do gramado comandando o Real, sempre tranquilo, elegante, terno azul, provavelmente encomendado, sob medida, em alguma alfaiataria na Via del Corso de Roma, colete, gravata, cabelos bem cortados, sapatos, creio, de cromo alemão, cheirando a perfume de lavanda francês e, com meus botões e parcos conhecimentos sobre os meandros do futebol, jurava, de pés juntos, que ele jamais aceitaria treinar a seleção brasileira. Mas, me contrariando, findo o contrato com o Real Madrid, ele aceitou o convite e vai comandar a seleção até a Copa do Mundo de 2026.

A pergunta que poderíamos fazer é: Porque Carlo tomou tal decisão? Que poderia desafiá-lo a trabalhar num país complicado como o nosso com crise política, penúria econômica, criminalidade e até risco de dengue e chicungunha? Dinheiro poderia ser a primeira resposta? Imagino que não. Com 66 anos, (completados no dia 10/6), ex-jogador com um passado de glórias, treinador de várias equipes europeias e um dos mais vitoriosos, deve ter acumulado uma fortuna considerável.  Ademais, pelo salário que supostamente ganhará aqui no Brasil, poderia facilmente conseguir em clubes europeus e continuar com seus ternos bem cortados, mascando chicletes e cheirando a perfume francês.

A resposta fica ainda mais complicada quando observamos que chegou exatamente no momento que o presidente da CBF, que iniciara os contatos em 2023, acabara de ser destituído e substituído, numa eleição cheia de mistérios, por um desconhecido vice-presidente de uma federação de futebol de um estado sem nenhuma relevância nacional. E, pior, comandará uma geração de jogadores medianos, longe das seleções estrelares de outros tempos.

Leio numas das suas entrevistas que nunca havia visitado o Brasil. E pergunto: estaria ele interessado em nossas riquezas turísticas? Teria escutado Jorge Ben cantando “moro num país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza, mas que beleza...”. Pode ser, nesse caso recomendo trocar o colete romano por um a prova de bala, deixar o Rolex em casa e preocupar-se com a sua segurança. Morando no Rio, é possível que simpatize com o Flamengo, só espero que não convoque o Fio Maravilha, aposentado há décadas. Mas, se ele se engraçar com “uma nega chamada Tereza” eu não vou estar nem aí. Problema dele com a senhora, que por sinal é muito bonita.

Em 1925, exatos 100 anos atrás, o físico Albert Einstein visitou o Brasil em meio a uma incursão de caráter científico de um mês e meio pela América do Sul que incluía Uruguai e Argentina. Passou sete dias no Rio de Janeiro, se encantou com o Jardim Botânico, visitou manicômio, fez palestras e se impressionou com o trabalho do general Rondon na incorporação das tribos indígenas à civilização. Em visita ao Observatório Nacional conheceu os astrônomos brasileiros que, seis anos antes, durante um eclipse em Sobral, Ceará, haviam comprovado um aspecto da teoria da relatividade, que é o desvio da luz, fundamental para o reconhecimento da sua famosa teoria. Apesar disso, demostrou pouco apreço pelos interlocutores em geral, transmitindo uma ideia de superioridade europeia e até mesmo uma boa dose de arrogância.

Antes do embarque de volta à Europa escreveu no seu diário de viagem: “Longos discursos com muito entusiasmo e excessiva adulação, mas sinceros. Graças a Deus acabou. Finalmente livre, porém mais morto que vivo.” Nunca mais voltou ao Brasil. Espero que com Carlo tenhamos outro resultado. Abençoado pelo Cristo Redentor ele já foi.

Benvenuto Carlo!

ree

 
 
 

2 comentários

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30 de ago.
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Muito muito muito bom ❤️

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Convidado:
30 de ago.

Oi Beto, belo e interessante texto. Pra quem não sabe, o Ancelotti e o meu amigo Albert, já declararam amor etermo ao Palmeiras. Avanti Palestra. Grande abraço

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