Notas de viagem – Havana
- Beto Scandiuzzi

- 6 de mar. de 2020
- 2 min de leitura
Em Havana, Max um cubano moreno e jovem com um elegante Chevrolet vermelho hidramático ano 52 ainda em bom estado nos levou por dois dias seguidos a todos os pontos turísticos da cidade, com muita sabedoria, paciência e humor. Durante as viagens nos ia relatando como vivem os cubanos, desde os privilegiados, poucos, como os militares, intelectuais de fachada e os que fazem parte da estrutura do poder e do partido, até os cubanos normais sem liberdade para sair do país e que passam os dias inventando como viver com o que lhes dá o governo e o pouco que conseguem ganhar.
Quando lhe perguntamos o que comem em casa respondeu com um sorriso: ovo, muito ovo. Arroz, feijão e de vez em quando carne de porco ou de frango. De vaca, quase nunca. Disse que no passado chegava muito frango do Brasil, mas agora não mais e quando chega a fila para comprar é imensa. Uma manhã lhe perguntamos como havia sido o café da manhã, ele me olhou bem nos olhos e disse:
– Nada – respondeu ele, engolindo saliva.
Mais tarde, a caminho da casa de Hemingway, a poucos quilômetros de Havana, paramos num bar bem simples, pequeno, destes de beira de estrada e ele comeu com gosto um pão com carne de porco (lechon) e Tucola, a Coca-Cola deles. Com alguma desconfiança, a convite dele, provamos um e não estava feio. A que servia atrás de um balcão tosco de madeira era uma jovenzinha toda risonha, rosto pequeno e jeito humilde, que depois ele explicou tratar-se da esposa, por sinal grávida de poucos meses. Se for menina, disse ele, vai se chamar Shakira. No quintal, galinhas e mais galinhas e bananeiras, e, num cercado, uns galos graúdos e esbeltos que bem poderiam ser de briga, uma paixão dos cubanos. A propriedade era do sogro.
Ao meio-dia almoçou conosco, ropa vieja, um prato típico deles. Ele comeu muito e no final ainda sobrou carne de porco e frango. Lhe sugerimos pedir ao garçom para embrulhar para ele levar, como se faz habitualmente no Brasil. Para nossa surpresa ele recusou, disse que era falta de educação.
Fevereiro, 2020
PS – O Malecón de Havana é uma linda avenida à beira-mar com mais de oito quilômetros de extensão separada do mar por um muro largo de cimento. Passamos por ele várias vezes e nunca vimos ninguém pescando tanto da margem como mar adentro. Se faltavam pescadores, à noite sobravam muchachos tomando tragos e tocando a guitarra sob a luz das estrelas.

.png)



Comentários