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O cine Santo Antônio

  • Foto do escritor: Beto Scandiuzzi
    Beto Scandiuzzi
  • 9 de jul. de 2020
  • 2 min de leitura

Uma noite dessas, tempos de pandemia, rendido que estou à Netflix, quem diria, procurei, procurei e não encontrei nada para ver dentro das poucas opções que a Vera me dá: comédias românticas. Fui então ao Now e fucei aqui, acolá e bem lá no fundo do baú encontrei Sabrina, que eu já tinha visto, mas ela não. Não o original, o remake, de 1995, com Harrison Ford e Julia Ormond. E não pude deixar de viajar no tempo me lembrando do Sabrina original, com Audrey Hepburn e Humphrey Bogart, de 1954, ganhou três Oscar, um dela como melhor atriz. Sabrina foi um dos primeiros filmes exibidos logo que se inaugurou o Cine Santo Antônio de Aramina aí pela metade dos anos 1960. O nome, o do cine, uma homenagem ao padroeiro.

Depois do Cine Aramina da minha infância, cujo prédio também já não mais existe e que também se usava para bailes, formaturas etc., do cine do Paulo David, onde é hoje o Santander, a cidade ficou sem cinema por um bom tempo. Até a chegada do novíssimo Cine Santo Antônio com sua fachada moderna, tela panorâmica, piso inclinado, cadeiras tipo poltronas, paredes internas coloridas pintadas em faixas transversais. Todo uma novidade, um acontecimento para o pequeno lugarejo em que vivíamos. Já nessa época eu trazia o gosto pelo cinema na alma. Amigo do Waltinho, filho do dono, com uma letra bonita, assim diziam, eu ajudava na produção dos cartazes com que se anunciavam os filmes da semana. Em troca de alguma entrada. O meu irmão Toninho já tinha a dele garantida, era o operador do cinema.

Passado tanto tempo, ainda posso me ver escrevendo aqueles cartazes em cartolina branca anunciando Sabrina e seus míticos personagens que ainda sobrevivem na memória de todos aqueles que viveram aqueles anos dourados. Nunca, desde então, uma comedia romântica fora tão perfeita. Uma linda Audrey, como uma Cinderela de outros tempos, vestindo elegantes vestidos Givenchy e um Bogart como um príncipe encantado improvável.

De vez em quando vou a Aramina e aproveito para visitar o amigo Wilmar, outro dos filhos do dono que ainda está lá ao lado do pai tomando conta do bar-armazém, um dos poucos daqueles anos ainda de pé e que resiste ao passar dos tempos. O cinema, há anos deixou de existir, tombado logo quando a TV chegou e era mais fácil e cômodo ficar em casa vendo novelas e mais novelas e comendo pipoca.

O prédio do cinema foi incorporado ao bar-armazém, fazendo um grande ambiente. Conversando com meu amigo, às vezes me assusto, e me entristeço olhando para a parede do fundo onde outrora estava a tela panorâmica e parece que vejo Audrey e Bogart dançando e se beijando misturados às latas de óleo de cozinha e caixas de sabão em pó empilhadas nas prateleiras. Com Edith Piaf e sua voz grave e imperial cantando La vie en rose bem longe. E uma profunda melancolia toma conta de mim.

Junho, 2020

Homenagem ao Máximo Colombini, cidadão araminense, dono do cine Santo Antônio e que outro dia comemorou 96 anos.

Acima, foto do dia da inauguração.

 
 
 

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