O meu Papai Noel
- Beto Scandiuzzi
- 6 de dez. de 2018
- 2 min de leitura
Li que a figura do Papai Noel tal qual o conhecemos hoje, foi criada por americanos em meados do século 19. Mas, dizem, foi a Coca-Cola que o imortalizou através de um comercial em 1930. Eu nasci bem depois, mas o bom velhinho vestido de vermelho e branco e cinto preto, que vive no polo norte e viaja num trenó puxado por renas, não fez parte da minha infância. Sem TV, jardim da infância, restritos meios de comunicação com o mundo distante onde vivíamos, o meu Papai Noel era em preto e branco.
Naquela noite, a mais esperada do ano, tudo o que eu sabia era que ele chegaria com o meu presente, montado num burro e que entraria na nossa casa pela chaminé do fogão à lenha da cozinha.
Eu sabia que ele era gordo e viria com um saco cheio de presentes, mas confesso que nunca me preocuparam possíveis dificuldades que ele poderia ter para descer pela estreita chaminé da nossa casa.
Para ganhar o presente, dizia minha mãe, era preciso deixar os sapatos engraxados e brilhando em cima do rabo do fogão. Ordenados um ao lado do outro.
Num daqueles natais, quando de manhãzinha fui em busca do meu presente, me lembro de ter visto os sapatos do meu pai jogados no chão da cozinha. Sem presente. Minha mãe disse que era porque os sapatos não estavam suficientemente limpos segundo o que pedia o Papai Noel. Eu acreditei. Hoje, tenho quase certeza que faltou dinheiro para o presente dele.
Mas tudo isto começou a mudar quando eu já grandinho, logo que fui deitar na véspera do natal, nem bem minha mãe apagou as luzes da casa, vi que minha irmã se levantou e na pontinha dos pés foi até a cozinha e voltou com o seu presente na mão: uma galinha de plástico branca que, quando apertada, agachava, abria as asas e botava ovos. Eu fiquei desconfiado e acho que foi o primeiro sinal que recebi que o Papai Noel que descia pela chaminé não existia.
Eu logo saberia a verdade, o Papai Noel era minha mãe. Desde então, e até bem pouco antes da sua morte, jamais se esqueceu do meu presente de Natal.
Mas muitos anos ainda passariam até que eu fosse apresentado ao Papai Noel atual, digital, universal e que faz a alegria da meninada nos shoppings centers. Nada contra, mas o Papai Noel que ficou na minha memória, insubstituível, é ainda em preto e branco, entra pela chaminé, anda de burro e, enquanto o Papai Noel faz o seu trabalho, come capim- gordura que eu cortava na véspera para ele no terreno que havia no fundo da nossa casa ao lado da linha do trem da Mogiana.
Dezembro, 2013
Comentários