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O relógio do apocalipse

  • Foto do escritor: Beto Scandiuzzi
    Beto Scandiuzzi
  • 6 de mar. de 2020
  • 2 min de leitura

O relógio do apocalipse

O mundo vai acabar”, dizia o meu avô Gildo em fins de tardes ensolaradas e vazias sentado num banco de madeira que havia na porta da casa. Cachimbo num canto da boca, pipa de pinga de engenho ao lado e os olhos cansados voltados para a imensa e plana várzea que se estendia até as margens do córrego Paraíso. Eu nunca soube de onde vinha essa premonição, se da leitura da Bíblia que ele fazia diariamente, chateação com aquela vida sofrida, ou efeito do álcool da pinga que ele tomava com gosto e parcimônia. Se o mundo não acabou até agora, acabou para ele ainda muito jovem numa manhã morna de outubro, quando eu apenas engatinhava.

Em 1947, cinco anos antes da sua morte, e dois depois do fim da Segunda Guerra Mundial, um grupo de cientistas da universidade de Chicago criou um relógio simbólico denominado “Relógio do Apocalipse” (Doomsday Clock), que usa a analogia da espécie humana estando sempre a “minutos da meia-noite”, e, nesse caso, a meia-noite representa a “destruição total e catastrófica da vida humana”. Inicialmente a analogia representava a ameaça à guerra nuclear global, porém desde algum tempo inclui mudanças climáticas e todo novo desenvolvimento das ciências que possam infligir um dano irreparável ao planeta.

O relógio nasceu com o ponteiro a sete minutos da meia-noite, se foi ajustando com o passar dos anos e o mais distante que esteve da destruição foi em 1991, a dezessete minutos, com o fim da Guerra Fria, quando Gorbatchov – Rússia e Bush, pai – e Estados Unidos se comprometeram a desmantelar grande parte dos seus arsenais nucleares. Agora no fim de 2019 os científicos advertiram que o mundo nunca esteve tão próximo da sua autodestruição. Guerra nuclear, mudanças climáticas agravadas por um multiplicador de ameaças, guerra de informação cibernética impedem respostas da sociedade. E o relógio foi ajustado: restam um minuto e quarenta segundos para o fim do mundo, o mais próximo da meia-noite desde a criação do relógio.

Várias personalidades mundiais, incluindo científicos integram o grupo do relógio, treze delas prêmios Nobel em alguma ciência. O meu avô Gildo que mal sabia escrever e ler e nem diploma tinha já sabia dessas coisas muito antes deles. Te cuida, planeta!

Janeiro, 2020

 
 
 

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