top of page

Obituários

  • Foto do escritor: Beto Scandiuzzi
    Beto Scandiuzzi
  • 9 de jan. de 2020
  • 2 min de leitura

Quando o arquiteto Oscar Niemeyer morreu em 2014, no outro dia, como é de praxe, saiu em todos os jornais extensos e minuciosos obituários sobre a sua vida e obra, que é imensa, diga-se de passagem. Na época, me surpreendi com tanta eficiência. Depois, fiquei sabendo que não havia nenhum segredo, é prática habitual nos meios de comunicação, principalmente nos jornais, ter sempre à mão um obituário das pessoas famosas e importantes. Evita-se, na pressa e no calor da notícia, divulgar erros ou imprecisões sobre o importante morto. No caso do Niemeyer não deve ter sido nada complicado. Já que faleceu aos quase 105 anos, é provável que há tempos o seu obituário estivesse pronto.

Não foi o que passou com revolucionário Fidel Castro. Contam que o jornal New York Times, tinha o seu obituário pronto desde 1959, ano em que desceu as montanhas de Sierra Maestra e tomou o poder em Cuba com seus amigos Che Guevara e Camilo Cienfuegos. Quando morreu em 2016, com 90 anos, e depois de ter sobrevivido a centenas de atentados, seu obituário, muito mais encorpado, já havia sido atualizado por 16 jornalistas. Mas não foi no New York Times, foi no jornal Clarin, de Buenos Aires, onde eu me encontrava naquela época, que li o mais completo, analítico e opinativo obituário sobre El Comandante.

Mas o caso mais inusitado aconteceu quando esse mesmo jornal, New York Times, no fim dos anos 90, início dos anos 2000, encomendou ao jornalista e crítico teatral Mel Gussow o obituário da divina e imortal Elizabeth Taylor, que entre uma doença e outra já andava com a saúde abalada. Por uma destas ironias do destino, Mel Gussow morreria em 2005, Elizabeth, seis anos depois em 2011. Não me consta se Mel tinha lá o seu obituário pronto nem se o de Elizabeth foi revisado.

Para as pessoas comuns e sem importância, eu incluído, jornal nenhum tem essa preocupação com o obituário. Lógico, a notícia das nossas mortes não trará nenhum interesse nem novos leitores. Talvez, quem sabe, um pequeno anúncio de pé de página, em linguagem padrão, avisando os poucos amigos e familiares. Convenientemente pago. Com a informação da missa de sétimo dia já incluída.

Maio, 2019

 
 
 

Comentários

Avaliado com 0 de 5 estrelas.
Ainda sem avaliações

Adicione uma avaliação
bottom of page