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Outubro amarelo

  • Foto do escritor: Beto Scandiuzzi
    Beto Scandiuzzi
  • 6 de nov. de 2019
  • 1 min de leitura

Agosto, seco e de pouco chuva, é o mês dos ipês quando suas folhas começam a ser substituídas por cachos de flores intensas e características, como o roxo, o rosa, o amarelo e o branco, mais raro. Agora em outubro é o tempo das sibipirunas. A avenida onde moro está cheia delas. E, se fosse pouco, apareceu agora um jacarandá – mimoso esticando, preguiçoso, os galhos em direção à minha sacada com flores cor violeta de paixão. As sibipirunas, que nesses tempos de início das águas florescem sem dó, enchem seus galhos de amarelos dourados e nossos olhos de pura beleza. Além de embelezar o alto com suas copas floridas, sem modéstia, embeleza também o chão quando deixa cair as flores, fazendo um tapete como que de pepitas de ouro. Tudo isso ao som das cigarras que cantam, qualquer hora do dia, até rebentarem o peito de tanta paixão.

Outro dia na minha caminhada matinal, a calçada ao longo da avenida estava forrada dessas pepitas de sibipirunas. Como alguma vez escreveu o escritor Rubem Alves: “Desço da calçada e ando no asfalto para não pisá-las”. Em frente a um edifício uma senhora, absorta, varria as flores e as juntava num saco de lixo. Passei por ela e disse:

– Senhora, que pecado, deveria deixar esse tapete dourado embelezar nossa avenida, não acha? Ela deu uma paradinha, me olhou feio, resmungou algo que não entendi, e seguiu varrendo. Acho que não entendeu a brincadeira. Se vê que tão pouco entende de beleza.

Outubro, 2019

 
 
 

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