Para não dizer que não falei das flores ….

Pela janela ampla e envidraçada do meu escritório vejo um pequeno parque. Quando não trabalho, leio; quando não leio, escrevo e entre uma e outra coisa olho o parque. Plano, forrado de grama rasteira onde crescem sibipirunas, jequitibás que nesse começo de primavera de céu azulado e sem uma nesga de nuvem, ameaçam florir. Pássaros há muitos, canarinhos da terra, sanhaços, pintassilgos, joão-de-barro e até o elegante sabiá caminha por ele. Outro dia um par de tucanos apareceu em busca de umas amoras roxas de madura que crescem num canto do parque. Longe da cidade, o ar é limpo e fresco.

Eu não sei se algum dinossauro andou por aqui. É bem provável que sim, houve um tempo em que eles eram os donos disso tudo, milhões de anos atrás, quando por alguma razão, desapareceram. Cientistas apocalípticos anunciam que o homem, perdulário, inconsequente, irresponsável, pode seguir o mesmo caminho e desaparecer da face da Terra. Como os dinossauros. As mulheres também.

Alguns animais já desapareceram, outros estão a caminho, os mares aquecem e avançam, os córregos e as nascentes de água doce estão minguando, o clima é cada vez mais diferente e cambiante.

Greta Thunberg, a ativista sueca de tranças loiras e compridas e de apenas dezesseis anos, discursou outro dia ferozmente na cúpula do clima da ONU contra todos aqueles que não estão fazendo a sua parte na preservação do meio ambiente e levou milhões de pessoas às ruas num evento que chamam “greve mundial pelo clima.” Alguns, como Trump, dizem que é tudo bobagem. Bolsonaro, também discursou, disse entre outras coisas que a Amazônia é nossa. Também acho, e se é nossa devemos cuidá-la melhor como toda a nossa fauna e flora, não só da Amazônia. E das criancinhas também, como diria o nosso rei Pelé. O segredo está em combinar o progresso com proteção ao meio ambiente.

Hubert Reeves, um famoso astrofísico canadense, disse uma vez: “O homem é a espécie mais insensata, venera um Deus invisível e massacra a natureza visível, sem saber que essa natureza é o Deus que ele venera”. Para pensar!

Em São Paulo, estado mais rico da nação, um secretário do Doria anunciou a próxima limpeza do rio Tietê. A décima? A décima primeira? Ninguém sabe. Disse mais, que não se trata de deixá-lo limpo para que se possa pescar. Não, será apenas para que não cheire mal. Mais claro impossível. A pergunta final é: que sobrará para nossos netos, bisnetos?

Outubro, 2019