Pernas

Existem algumas mulheres que têm pernas surpreendentemente bonitas. Destas que a gente vê caminhando pela rua e exclama de boca aberta, baba escorrendo e queixo caído:

– Que par de pernas! Sem poder arredar os olhos!

A gente olha, olha e não encontra defeito algum: pés, canelas, joelhos, coxas, todo um conjunto harmonioso e único. Roliças, graciosas, desejadas. De linhas, curvas e tangentes sensuais em combinação perfeita. Como que desenhadas e esculpidas por algum ser superior.

Em geral elas sabem da qualidade do material que têm. Por isso, usam sempre sapatos de salto que levantam o bumbum, ressaltam e modelam a panturrilha. E não dispensam o vestido curto, que não esconde nada, ou rodado, largado, permitindo mostrá-las a qualquer movimento do corpo.

Mas também existe as que preferem o estilo mostrar/esconder, insinuando, sugerindo mais que mostrando, usando vestidos agarradinhos ao corpo com fendas espetaculares, provocantes, tentadoras.

A gente poderia nomear várias artistas globais que aparecem diariamente na TV ou revistas, unanimidades nacionais em relação a este quesito e que habitam o sonho e o imaginário de todos nós. Mas não, não me refiro a essas. Refiro-me às desconhecidas, anônimas, que a gente tromba dobrando uma esquina qualquer ou cruzando pelas ruas e sente aquela sensação de desejo indescritível, misto de fogo e prazer, inferno e paraíso.

Desnudas ou cobertas com meias finas e sedosas, com ou sem ligas, bulem com a imaginação de cada um. Ferinas, elásticas, misteriosas, eróticas, longilíneas, fatais, rosadas, opulentas, fortes, penujadas, alvas, morenas, loiras ou achocolatadas.

Pernas para acariciar, para tocar dançando um bolero de Ravel, do Luís Miguel ou Lucho Gatica, para repousar mãos cansadas e trêmulas deitado no quarto escuro, olhos fechados, esperando o sono tardio dos justos.

Fevereiro, 2019

No mês do seu aniversário, uma homenagem a Mary Quant, a inglesa que nos anos 60, com uma tesourada certeira, encurtou os vestidos, criou a minissaia e destapou as pernas das mulheres. O mundo nunca mais seria o mesmo.