Reencontro

Benito viveu toda a vida na mesma cidade onde havia nascido, incrustada numa encosta de uma montanha, distante de qualquer lugar, com uma planície esverdeada em frente que sumia de vista. Quase todos os moradores eram descendentes de italianos do Véneto que chegaram ainda no século XIX fugindo da fome e das guerras em busca de um futuro melhor. O nome Benito foi escolhido pela mãe, a partir de uma lista tríplice elaborada pelo pai, que incluía ainda Adolfo e Francisco. Os três, admirados pelo pai, grandes ditadores na época da Segunda Guerra Mundial. Adolescente, porte atlético, loiro, olhos azuis, era desejado por todas as garotas do lugar. Bom aluno na escola, na faculdade, excelente professor de matemática, jogador e treinador da equipe de futebol local por muitos anos, juiz de paz nos seus últimos anos de vida.

Aos setenta e oito anos, sem aviso prévio, um fulminante ataque do coração o matou. Com respeito, muita tristeza e sem pompa, foi levado e enterrado no cemitério São José ao lado da esposa, Elza, já falecida alguns anos antes dele, também de um ataque cardíaco. Nem bem haviam passados uns três meses da sua morte, se descobriu através de uma carta testamento escrita do seu próprio punho que ele gostaria, quando morresse, de ser enterrado ao lado da Betina, segundo ele, seu grande amor de toda a vida, e que havia morrido ainda jovem num terrível acidente automobilístico.

Aos moradores da cidade, católicos praticantes e tementes a Deus, não lhes restou outra alternativa que cumprir o testamento do Benito e colocá-lo ao lado da Betina que estava enterrada num outro cemitério, o São João.

Assim, numa manhã de primavera com muito sol, quase toda a cidade, num cortejo que nunca se havia visto antes e que durou horas, o acompanhou neste seu segundo enterro. Agora sim, com banda, foguetes, bebidas, muita música e alegria, segundo ordens expressas que o morto havia deixado no seu testamento.

Fevereiro, 2018