Santos casamenteiros
- Beto Scandiuzzi

- 7 de fev. de 2020
- 2 min de leitura
Semana passada, dia 13 de junho, foi dia de Santo Antonio, padroeiro da minha cidade natal. Não sei bem o porquê da escolha do santo, mas tudo leva a crer que tem a ver com meu bisavô paterno, fundador da cidade, seu devoto e xará. Esse ainda hoje é o dia mais festivo da cidade, com missa, procissões e muita festa. Das recordações melhor guardadas na minha memória.
Além de padroeiro e protetor, Santo Antônio também cumpria com sua outra tarefa, essa com certeza mais importante, a de santo casamenteiro. Quando era pequeno me lembro de que em quase todas as casas havia uma imagem de Santo Antonio. Podia ser também que havia outros motivos já que o santo é um dos mais poderosos, mas é provável que a razão principal fosse dar uma mãozinha e ajudar a encontrar marido para as moças da casa.
Mas na minha casa não havia; minha mãe, que quase todos os dias estava na igreja, preferia rezar e pedir ao santo diretamente, ele que ficava bem no alto e no meio do altar principal. Deu certo, minhas irmãs e uma prima que morava conosco se casaram na idade certa; e sem a presença do delegado.
Apesar da forte demanda por pedidos de casamento que lhe chegavam de todo lado, Santo Antônio não se descuidava da nossa cidade. Lembro-me que havia uma ou duas solteironas, mas meu pai dizia que era culpa delas, que eram muito bonitas quando jovens, mas muito exigentes e nenhum partido lhes servia. O santo não tinha nenhuma culpa nem perdeu prestigio com o caso.
Muitos anos mais tarde descobri que Santo Antônio não tinha o monopólio de santo casamenteiro. Em muitos países, principalmente os de origem anglo-saxões, essa tarefa está nas mãos de São Valentin, um mártir romano do século III e se comemora no dia 14 de fevereiro. Outro que pode rivalizar à altura com Santo Antônio é São Gonçalo Amarante, português como ele, cujo dia se comemora em 10 de janeiro.
Mas, enquanto Santo Antônio estaria mais dedicado às moças, São Gonçalo é especializado em coroas e veteranas, encalhadas se dizia. Nem sei se é parte de algum acordo entre eles para dividir o mercado e as tarefas. Mas é o que se deduz dos versinhos cantados em sua homenagem:
“São Gonçalo de Amarante,
Casamenteiro das velhas
Por que não casais as novas?
Que mal vos fizeram elas?”
Ou este:
“São Gonçalo do Amarante,
Casai-me, que bem podeis,
Pois tenho teias d’aranha
No lugar que bem sabeis.”
Dizem que com essas rezas é tiro e queda, é casamento na certa. Pena que São Gonçalo não era tão popular lá na minha terra natal. As duas solteironas que haviam por lá teriam se salvado.
Junho, 2013

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