Sarita
- Beto Scandiuzzi
- 7 de fev. de 2019
- 2 min de leitura
Às vezes penso que deveria ter nascido vaga-lume, ou coruja. Sei lá, sempre gostei da noite, e de dormir tarde e levantar tarde. Depois a vida me ensinou que, para viver com alguma responsabilidade, era melhor fazer o contrário. Uma pena! Mas houve um tempo em que eu podia me dar esse luxo.
Lembro-me que nessa época ganhei um rádio portátil (Philco) dos meus pais; passava madrugadas ouvindo-o; que saudades da Rádio Mundial, Big Boy com seu inconfundível “hello, crazy people”! Hoje o rádio está fora de moda, substituído pela TV e outras bugigangas. Não é a mesma coisa. Mas que fazer, são os sinais dos novos tempos.
Ontem à noite, indo de um canal a outro, encontro um show musical em Buenos Aires; pausa, olho bem o subtítulo: Mariano Morres e Sara Montiel. Não podia acreditar. Já não me lembrava dela. Aí estava Sarita Montiel, em carne e osso, chegando das profundezas da minha memória, trazendo lembranças indescritíveis e doces saudades! Confesso que nestes anos todos não me lembrei dela; um pecado imperdoável!
Quantos anos se passaram? Tempos de juventude, quando nos reuníamos na casa do Jorjão, uma das poucas com vitrola na cidade. Sem internet, MP3, celular, as tardes de sábado eram dedicadas ao bate-papo, música, numa prévia para o grande evento semanal: o baile da noite no clube do AFC. Não éramos elitistas[RS1] , ouvíamos de tudo, de Beatles a Roberto Carlos, passando por Connie Francis, Altemar Dutra, Billy Vaughn. Tudo misturado. E Sarita Montiel.
Dona de uma voz única, insinuante, magnética, cujos boleros, como “Contigo aprendi”, “Besame mucho”, correram mundo e fizeram sua marca registrada. Mas seu maior sucesso foi sem dúvida “Fumando espero”, uma exaltação ao prazer de fumar e ao amor, quando fumar ainda era sensual e sinônimo de elegância.
Aí na TV, com seus 80 anos já completos, ainda mostra uma voz firme e uma silhueta esbelta e radiante, de quem em seu tempo havia sido uma das mulheres mais bonitas e cobiçadas. As horas passam rápidas, nem as vejo passar; uma última canção, o tango “A media luz”, se despede e se vai.
Uma pena, esperava ouvir a música que era minha preferida: “La Violetera”, do filme do mesmo nome. A cena, na Madri do início do século XX, com Sarita cantando, num vestido amarelo claro, lenço na cabeça e uma cesta de flores no braço, se tornou um dos ícones da cinematografia mundial e um dos seus maiores sucessos. Música e emoção num filme inesquecível.
Obrigado, Sarita, você me fez mais feliz esta noite. Eu e tantos outros por este mundo afora. Gracias!
Novembro, 2008
PS: Sara Montiel, cantora e atriz espanhola, nascida María Antonia Alejandra Vicenta Elpidia Isidora Aurelia Esther Dolores Abad Fernández, morreu em 2013 aos 85 anos em Madri.
[RS1]Ok?
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