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Sem voto

  • Foto do escritor: Beto Scandiuzzi
    Beto Scandiuzzi
  • 5 de ago. de 2019
  • 2 min de leitura

Se espalhou rapidamente por esses dias na internet um vídeo já com mais de meio milhão de visualizações que mostra Neetu Suttern Wala chorando desesperado porque se sente decepcionado e traído por sua família. Wala, indiano, foi candidato independente nas eleições para a Câmara Baixa do Parlamento da Índia agora nesse mês e toda sua decepção reside no fato de que só recebeu cinco votos apesar de contar com nove pessoas na família em idade para votar.

Não pude deixar de voltar no tempo, tempo longínquo, tempo da minha infância, tempo da minha cidade natal, quando algo parecido aconteceu por lá. O ano era 1965 acho, e a cidadezinha acabava, depois de muita luta, de se separar de Igarapava, da qual era distrito e se tornar município. Passada a euforia e as festas, havia que organizar as primeiras eleições, eleger o prefeito, vice e os vereadores. Quanto ao prefeito não havia dúvida, seria o primo Dr. Thomáz, grande líder e artífice daquela empreitada que culminou com a elevação da cidade a outro patamar de desenvolvimento. E estavam os vereadores. Muitos se candidataram. Três dos eleitos naquela gloriosa eleição, um deles o tio Antenor, ainda estão lá vivos para contar a história.

Um dos candidatos a vereador era um outro primo, o Piolão, apelido que ele levava em homenagem aos seus mais de um metro e noventa de altura, (seu nome era Dorival e na intimidade familiar era o Tito), filho da tia Olinda e do tio Perim e que morava bem em frente à nossa casa. Ainda hoje posso vê-lo perambulando pela minha memória, saindo de casa, para o passeio vespertino de todo dia, em direção à praça, todo elegante, camisa branca anilada de manga comprida dobrada no punho, gola alta, cigarro num canto da boca ao melhor estilo Bogart. Ele era bem popular, juiz de menor, de família tradicional e numerosa. Aposta fácil para ser eleito.

Ele era um solteirão, já trintão, mas justo naquele ano ele andava de namoro firme com a Marlene, uma morena linda, lábios carnudos, olhos verdes, um avião, como então se dizia. E ele, crente de que já estava eleito, decide se casar na semana da eleição e viaja para a lua de mel. Quando retorna alguns dias depois qual não é a sua surpresa ao constatar não haver recebido nenhum voto. Inexplicavelmente, nenhum voto. O indiano Neetu Suttern Wala, com os seus cinco votos, fez melhor papel. Bem melhor!

Maio, 2019


 
 
 

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